Tuberculose

Artigo de opinião publicado no “Diário de Notícias” 24 março 2022

Hoje, 24 de Março, assinala-se o Dia Mundial da Tuberculose em sessão pública promovida no Instituto Ricardo Jorge, organizada em conjunto com a DGS. A ideia será realçar a importância que a doença ainda representa como problema de Saúde Pública.

É bom que aconteçam estes dias comemorativos. No caso da tuberculose é preciso relembrar e refletir nas conquistas alcançadas recentemente. Mas, é necessário continuar. Não desistir. Ganhar ambição.

Ora, ao longo dos anos, a tuberculose foi, justamente, considerada como uma doença major killer, associada à pobreza e às classes trabalhadoras (mineiros, em particular), mas que não poupava famílias de altos rendimentos.

Sabe-se, desde o anúncio, a 24 de Março de 1882, da descoberta pelo cientista alemão Robert Koch que a tuberculose é provocada por uma bactéria com a forma de bastonete (bacilo). Por esta razão, passou a ser designada como Bacilo de Koch ou, simplesmente, por BK.

A doença, em regra, evolui com acentuado emagrecimento, acompanhado de sintomas e sinais respiratórios.

Antes da era dos medicamentos específicos, os doentes com tuberculose eram internados em sanatórios para evitar a sua transmissão e proporcionar alívio da sintomatologia pelo repouso e pelas condições climáticas envolventes.

Em 1921, os franceses Calmette e Guérin prepararam a vacina que passou a ser denominada por BCG (iniciais de Bacilo de Calmette e Guérin).

Em 1943, a estreptomicina foi descoberta pelo ucraniano Selman Waksman.[1] Foi o primeiro antibiótico eficaz para tratar a tuberculose. Um imenso avanço que marcou a evolução do seu controlo: antes e depois da estreptomicina.

Porém, a partir de 1980, a emergência da pandemia de SIDA, ao provocar a deficiência das respostas imunitárias, esteve na origem do recrudescimento da tuberculose.

Em Portugal, em 2006, logo a seguir a ter terminado o mandato de Presidente da República, Jorge Sampaio foi designado pelo então secretário-geral das Nações Unidas, Kofi Annan, como Enviado Especial para a Tuberculose. Sampaio, juntou um meticuloso trabalho político à metodologia médica para prevenir e controlar a tuberculose. Fez advocacia no sentido do desenvolvimento da luta contra a doença, à escala global. No âmbito do programa STOP TB PARTNERSHIP, encontrou-se com estadistas e especialistas, em todo o mundo. Invariavelmente apelava à inovação como prioridade absoluta para resolver o drama humanitário que a tuberculose continuava, inexplicavelmente, a representar.

No seu País, Jorge Sampaio apoiou os serviços do Ministério da Saúde, particularmente através de um fundo que criou para permitir afinar a estratégia do Programa de Luta contra a Tuberculose baseada no diagnóstico e tratamento precoces. Sabia que a tuberculose podia ser curada, ao contrário da SIDA. Gostava de sublinhar o lema “uma vida, duas doenças, uma resposta”, precisamente para realçar a interligação do controlo da tuberculose e da SIDA. As duas doenças “irmãs” como dizia Kofi Annan.

Sampaio, na dimensão política, trabalhou com os ministros António Correia de Campos e depois com Paulo Macedo. Recebeu, também, o apoio dos diretores nacionais do Programa, nomeadamente Fonseca Antunes e Raquel Duarte que acolhiam, com entusiasmo, a divisa do Enviado Especial das Nações Unidas: “fazer mais, fazer depressa e fazer melhor”.

Francisco George
franciscogeorge@icloud.com


[1] Laureado com o Prémio Nobel da Medicina em 1952.