O Segredo dos Gémeos (III)

Artigo de opinião publicado no “Diário de Notícias” 13 abril 2022

Na perspetiva da divulgação da génese das gravidezes múltiplas foram já aqui descritas as principais diferenças entre os dois tipos de gémeos: os idênticos e os diferentes ou, também, designados como gémeos falsos. Em qualquer das duas situações, existe um sentimento de fraternidade singular, mas que é ainda mais especial quando partilham o mesmo património genético pela evidente cumplicidade redobrada que se estabelece entre eles. Neste caso, os dois irmãos desenvolveram-se a partir de um só embrião. Tudo começou como se tivesse sido apenas um, visto que no início da gravidez o ovo fecundado era o mesmo (a divisão do ovo que irá dar origem aos gémeos surgirá por volta do quarto dia depois da fecundação).

Nos gémeos idênticos, principalmente durante a infância e juventude, devido às incríveis parecenças físicas há, muitas vezes, grande dificuldade para distinguir os dois, mesmo por familiares ou amigos próximos.

Nestas circunstâncias, para se saber quem é quem, são muito frequentes as historietas narradas com base nas confusões geradas para diferenciar um gémeo do outro.

– És o Francisco ou o João?

A barafunda será imensa quando os dois irmãos combinam, entre eles e em segredo absoluto, que não iriam desfazer enganos durante um período de tempo. Então, acontecem confusões gigantescas quando, por exemplo, um amigo interpela na rua o Francisco, mas julgando que é o João, e diz-lhe:

– Ó João, mais logo, pelas 20h30, passarei em tua casa para irmos juntos ao cinema.

O Francisco, que não desfez o engano, não avisa o irmão da combinação. Depois do jantar, o tal amigo vai a casa do João, como pensou ter combinado, e ouve com espanto:

– Não poderei ir. Não estava à tua espera. Devias ter telefonado para combinarmos…

Exemplifique-se, a seguir, um episódio mais sério e mais complicado de elucidar.

Como se compreende são muitos os médicos, psicólogos e outros especialistas em ciências sociais que procuram estudar a incidência de doenças e de comportamentos entre gémeos idênticos. Estas pesquisas, conduzidas em situações especiais, visam analisar o peso relativo do património genético em relação aos diferentes ambientes que envolveram o desenvolvimento e crescimento de dois gémeos que tenham sido separados à nascença e que cresceram em lugares e em famílias distintas. Assim aconteceu quando uma equipa de investigação inglesa identificou um infantário na China que durante a II Guerra Mundial albergava órfãos destinados a serem entregues a famílias estrangeiras que aí se deslocavam à procura de crianças recém-nascidas para serem adotadas. Pelos registos da época, os investigadores conseguiram identificar casos de separação forçada de irmãos gémeos idênticos porque a família de acolhimento decidira ficar apenas com um e não com dois…

Nesse contexto, passados mais de 60 anos, foram referenciados dois gémeos que tinham sido separados e levados um para Inglaterra e outro para a Austrália. Os investigadores não só conseguiram entrevistá-los como, também, juntá-los. Verificaram, então, que os gémeos tinham orientações sexuais diferentes: um era homossexual assumido e o outro exclusivamente heterossexual.

Em resumo.

O mesmo ADN, a mesma corpulência, semelhanças físicas indiscutíveis, mas com diferentes orientações sexuais.

Apesar de não ter qualquer significado estatístico, como interpretar?

Francisco George
franciscogeorge@icloud.com