Contágios

Artigo de opinião publicado no “Diário de Notícias” 15 junho 2022

Saber como se transmitem as doenças constituiu, desde sempre, motivo de interesse na perspetiva da prevenção do contágio.

Até ao fim da Idade Média pouco mais se fez além do confinamento das pessoas que apresentavam sinais de uma doença contagiosa. Assim sucedeu com a lepra ou a peste, por exemplo. Na altura, não se conhecia a natureza das doenças e ignorava-se como se transmitiam. A sua identificação era geradora de pânico entre familiares e comunidade.

Foram as pesquisas do cientista francês Louis Pasteur (1822-1895) e do médico alemão Robert Koch (1843-1910) que demonstraram, pela primeira vez, a relação causa efeito entre agentes microbianos e doenças (só em 1876 foi comprovado que o bacilo anthracis[1] causava o carbúnculo).

Desde então e até hoje, foram muitos os avanços da Medicina que iriam elucidar as diferentes origens das infeções, como se transmitem e como se evitam. São, agora, cada vez menos os segredos por desvendar…

Em linhas gerais, no processo de propagação das infeções (causadas quer por vírus, bactérias ou por protozoários) consideram-se dois modos de transmissão: direta e indireta.

Precise-se, então.

  1. 1. A transmissão direta ocorre através do contato próximo entre um doente e uma pessoa que, estando saudável nesse momento e sem proteção, irá adquirir essa mesma doença no final do período de incubação. Cada infeção tem a sua forma própria para se transmitir. No caso da gripe ou da Covid-19, por exemplo, acontece quando as gotículas expelidas pelo doente são inaladas por uma pessoa não protegida a uma distância curta (cerca de 1 metro). A transmissão direta pode, ainda, verificar-se, no contexto de contatos íntimos entre pessoas ou por via sexual (como a gonorreia, a sífilis, a SIDA…).

É indispensável falar, abertamente, das doenças de transmissão sexual, porque, desde sempre, constituem motivo de vergonha e discriminação injustificadas. Aliás, o silêncio em redor destas infeções, a par do não tratamento medicamentoso adequado, tem contribuído para contagiar cônjuges ou outros parceiros. Igualmente, é necessário entender que o sexo esporádico ou com múltiplos parceiros, se praticado sem utilização de preservativo, representa um risco que, sublinhe-se, poderia ser facilmente evitável.

A questão do risco de transmissão de infeções através de relações sexuais não pode continuar a ser tabu até porque é possível eliminá-lo, incluindo no “dia seguinte”.

  1. 2. Por outro lado, a transmissão indireta pode ocorrer (como Covid-19) através do contato com as mãos em objetos inanimados quando estão contaminados, como sucede em superfícies lisas, nomeadamente maçanetas das portas, corrimãos, botões de elevadores, teclados, mesas, etc.

A transmissão por via hídrica acontecia antes da introdução da desinfeção pelo cloro dos sistemas de abastecimento de água destinados a consumo humano. Nesse tempo, beber água era arriscado porque podia estar contaminada pelos agentes da poliomielite, cólera, hepatite A ou diarreias agudas.

Há a citar, também, a via por alimentos contaminados (causa de diarreia e febre tifoide). E, ainda, quando a infeção é transmitida pela picada de mosca ou mosquito (via vetorial) como acontece com o paludismo, dengue, febre amarela, Zika…

Moral da história: conheça-se o contágio para o evitar.

Francisco George
franciscogeorge@icloud.com


[1] Nome devido à cor antracite da bactéria identificada (com a forma de bacilo).