“A Guerra é a Morte…”

Artigo de opinião publicado no “Diário de Notícias” 29 junho 2022

Visitar as praias da Normandia para reviver o Desembarque é um exercício que todos deviam, agora, fazer. Uma “vacina” para todos, incluindo jovens em idade escolar, sublinha-se. Exercício facilmente praticável através da leitura de textos, consulta de livros ou, ainda melhor, da observação de imagens de fotografias e de filmes da época, disponíveis na internet e canais da televisão (para além, naturalmente, de deslocação à Normandia).

Fez este mês 78 anos que as divisões das forças armadas Aliadas atravessaram o Canal da Mancha para libertarem a França ocupada pelos alemães. Muitos milhares de soldados, sob o comando dos generais Dwight Eisenhower (1890-1969) e Bernard Montgomery (1887-1976), iniciaram nas praias da Normandia a Libertação da França e, também, da Europa e do Mundo. Em 1944, na manhã de 6 de Junho, entre tropas terrestres e paraquedistas, mais de 150 mil militares dos contingentes americanos, ingleses e canadianos desembarcaram nas célebres praias, então designadas com os nomes de código de Omaha Beach, Utah Beach, Gold Beach, Sword Beach e Juno Beach. Muitos morreram nas primeiras horas.

A estes jovens heróis que participaram na Libertação, há que juntar os soldados do Exército Soviético, chefiado pelo general Gueorgui Júkov (1886-1974), que entraram em Berlim a 2 Maio do ano seguinte, assinalando a derrota alemã do Terceiro Reich de Adolf Hitler. Seguiram-se a Itália e o Japão.

E, igualmente, é preciso destacar os partizans da Resistência Francesa (quase 20 mil morreram em combate ao lado dos Aliados).

No total, entre militares e civis, a II Guerra Mundial de 1939-1945 matou 60 milhões de pessoas.[1]

Quem poderia ignorar esta enorme tragédia, este imenso sacrifício?

Foram muitos. A realidade viria a revelar uma insensibilidade incompreensível. Estranhamente, as bandeiras da Guerra regressaram pouco depois e subsistem até hoje. Ininteligível. Coreia. Vietnam. Palestina. Balcãs. Irão. Iraque. Síria. Afeganistão…

O horror em matar e morrer parece não ter fim. Imparável.

Já em 2022, com a ilegítima invasão da Ucrânia pelas tropas da Rússia voltaram os discursos e as ações belicistas. É muito provável que o conflito tivesse sido evitado com mais diálogo e ponderação de cada parte. Tudo falhou. Tudo horrível. Atroz. Impiedoso.

Líderes europeus e da NATO em perigosa sintonia de alto risco. As habituais sanções aplicadas ao invasor, mas a refletirem-se negativamente a nível global. A questão do trigo. Fome. Pobreza a aumentar. A Presidente da Comissão Europeia a advogar a implementação de medidas que desequilibram a estabilidade económica e financeira da União que originam descontrolo da inflação.

O Secretário-Geral da NATO a não dar tréguas à guerra. O Conselho de Segurança da ONU, mais uma vez, inoperante. Praticamente ausente. São poucos os que optam por promover a Paz. Quase ninguém.

Cada vez mais armamento, mais tanques, mais artilharia e mais misseis. Mais morte.

Conclusão: Tudo mau. Todos a perder. Apenas a indústria de armamento a ganhar.

Moral: Está resumida na placa de mármore que o Canada colocou no Memorial de Caen, na Normandia, próximo do Cemitério Militar, onde estão mais de 2000 sepulturas com os seus soldados que desembarcaram em Juno Beach:

A guerra é a morte
 A paz, a vida
 A liberdade, a esperança”.

Francisco George
franciscogeorge@icloud.com


[1] Dos 60 milhões de mortos, um terço eram russos (URSS).