Humanismo

Artigo de opinião publicado no “Diário de Notícias” 12 outubro 2022

Trabalhar, voluntariamente, em organizações humanitárias representa uma forma diferente de estar na vida, por múltiplas razões. Antes de tudo, pela sensação, única, em construir Humanismo. Desenvolver Solidariedade. Cultivar Fraternidade.

Esta ideia começou há muitos atrás, no tempo da Segunda Guerra da Independência de Itália, em 1859. Então, o poderoso Exército do Imperador Austro-Húngaro, Francisco José, combatia a Itália que lutava pela Libertação do seu Território.

Era o tempo do guerrilheiro Garibaldi (1807-1882), mas, também, do compositor Verdi (1813-1901) que compunha as suas eternas óperas.

Nesse ano, em 1859, confrontaram-se, por um lado, as tropas francesas de Napoleão III, aliadas aos exércitos italianos do Reino da Sardenha de Vítor Emanuel II e das Províncias Unidas do Centro e por outro lado, os contingentes do Império da Áustria às ordens de Francisco José I. Os Aliados juntam mais de 190 mil soldados e 800 peças de artilharia. Os austríacos, em desespero, chegam a mobilizar, ao longo da campanha, um total superior a 250 mil militares.

Primeiro, foi Garibaldi, que à frente de forças voluntárias, conhecidas como Caçadores dos Alpes, derrotou os austríacos em Abril e depois, em Solferino (aldeia da Lombardia), em Junho, o Imperador da Áustria sofreu, novamente, pesada derrotado imposta pelos Aliadas.

As crónicas da época que descrevem em pormenor a Batalha de Solferino são impressionantes. Perturbam pela crueldade. Comovem. O conflito armado envolveu, somando os dois lados, mais de 200 mil soldados. No final do dia, os campos dos confrontos armados ficaram povoados de corpos prostrados no chão vermelho, ensanguentado. Eram muitos milhares de soldados, mortos e feridos, dos dois exércitos. A impiedosa dureza dos combates retrata uma desumanidade absoluta.

Era preciso organizar o socorro aos combatentes, mas sem distinção de nacionalidade. Eram muitos milhares de feridos. Homens em horrível sofrimento que necessitavam de apoio urgente. Reclamavam por cuidados, às vezes era até tão simples como a limpeza de um ferimento superficial ou dar água a beber. Outras, pelo contrário, em soldados sem forças devido aos ferimentos graves provocados por tiros de espingarda, de canhão ou baionetas. Um horror difícil de descrever.

Foi então que o cidadão suíço, Henry Dunant, que presenciou a desumanidade da Batalha, foi procurar ajuda aos residentes, civis, da aldeia para recolherem os soldados feridos, a fim de serem tratados sem qualquer distinção. Derrotados e vitoriosos. Os socorristas voluntários ignoravam as cores dos fardamentos e as nacionalidades. Era tempo de sobrepor os valores do Humanismo a quaisquer outros interesses. Italianos, franceses, austríacos eram todos homens. Todos sofriam. Todos distantes das famílias. Todos precisavam de auxílio. Por igual. Sem nenhum tipo de discriminação.

Logo depois, muitos outros conflitos, com cenários semelhantes, voltaram a acontecer.

Homens continuam a guerrear contra outros homens. Preferem soluções belicistas na resolução de conflitos. Não privilegiam o diálogo.

Hoje, assim é, entre Russos e Ucranianos. Que atrocidades! Uma vergonha, antes de tudo, para Putin.

Moral da História:

Será que os líderes da NATO, da União Europeia, do Reino Unido e Estados Unidos da América, ao enviarem tanto armamento para a Ucrânia, estarão a erguer a Paz ou a Guerra?

Francisco George
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