Mulheres (I)

Artigo de opinião publicado no “Diário de Notícias” 19 outubro 2022

Maria da Fonte é uma figura histórica, fascinante. Uma heroína. Provavelmente a mais conhecida dos Portugueses. Foi ela que, em 1846, mobilizou as populações do Norte para lutarem por melhores condições de vida.

Os aumentos de impostos e o novo recrutamento militar, por um lado e por outro a proibição governamental de enterrar mortos nas igrejas, despoletou a Revolta. Maria da Fonte, cedo percebeu que era necessário pelejar muito para mudar as políticas ditadas por Lisboa. A partir da freguesia de Fonte Arcada, em Póvoa de Lenhoso, Maria lidera a luta que, rapidamente, alastra por todo o Minho. É o Povo que se manifesta contra os governantes para exigir viver melhor.

Em Lisboa, os políticos descontentes com o Governo, juntam-se à contestação. Espontaneamente, apoiam Maria da Fonte. Também, pretendem um rumo diferente. Mais prosperidade. Reconhecem que para tal, são precisas mudanças no Poder Político.

Nesse tempo, Costa Cabral estava à frente do Governo do Reino. A população culpa-o de nepotismo, uma vez que, pela sua mão, o seu pai e dois irmãos ingressaram no Parlamento. É, igualmente, acusado de corrupção, por ter enriquecido à custa do seu cargo político, apesar das suas origens familiares serem modestas. Pouco tempo depois, a Revolta da Maria da Fonte vence o Cabralismo. Os “Cabrais” são afastados. Derrubados. Iria, a seguir, começar o período da Regeneração, com outros protagonistas políticos, mais jovens e pontuado pela figura mais simpática de Fontes Pereira de Melo. Maria da Fonte está, devidamente, representada na estátua do Jardim da Parada, em Lisboa, a partir de 1920. É a heroína inspiradora. A obra, esculpida em mármore por Costa Mota, retrata uma mulher jovem, descalça, com vestes populares minhotas, empunhando um pau com ponta de ferro por cima do ombro esquerdo e uma pistola na mão direita. Parece correr à frente de manifestantes contra o Cabralismo.

Menos conhecida, em Portugal, é Ana Maria de Jesus Ribeiro que nasceu a 30 de Agosto de 1821, em Santa Catarina, antes da Independência do Brasil. Contemporânea de Maria da Fonte, Ana tem um percurso muito distinto e, ao contrário da Minhota, percorre os “dois lados do mundo” a batalhar pela Liberdade.

Também diferente de Maria da Fonte, Ana tem uma história real. Muito bem documentada. A sua vida é romântica, mas ao mesmo tempo de glorificação pelo exemplo da sua coragem, heroísmo e pela dedicação à causa da Liberdade. Ana é descendente de açorianos pobres que imigram para o Brasil. Casa pela primeira vez com um artesão sapateiro. Mas, o casamento acaba ao fim de 3 anos, sem filhos. Depois, em 1839, encontra o patriota italiano Garibaldi, na altura refugiado no Brasil. Entre eles, nasce paixão. Há comunhão de ideais. Passa a ser Anita Garibaldi. Com ele, combate nas Américas e depois pela Independência de Itália. Mãe de três filhos, continua a batalhar, em Roma, pela unificação de Itália ao lado de Garibaldi. A etapa final da sua vida é dramática. Em 1949, morre, grávida de 5 meses, a lutar.

Moral da história:

Simbolismo e realidade associam Maria e Anita.

Procuram-se produtores e realizadores de cinema para filmarem as fantásticas histórias de vida das duas heroínas Maria da Fonte e Anita Garibaldi. Poderão submeter os respetivos argumentos às plataformas de streaming NETFLIX ou HBO Max. Sucesso garantido. Inadiável.

Francisco George
franciscogeorge@icloud.com