Lições pela Sua Saúde (I)

Artigo de opinião publicado no “Diário de Notícias” 14 dezembro 2022

Fernando Pádua partiu aos 95 anos de idade. É a “lei da vida”, mas sempre uma tristeza. Uma grande perda para Portugal. Até há pouco tempo, as suas inesquecíveis lições continuaram a beneficiar toda a população. Ensinava com rigor através de exemplos muito simples. Mestre de mestres, muitos dos seus discípulos procuraram seguir os seus ensinamentos. Foi sempre um exemplo de coerência pelo estilo de vida que cultivava.

Já nos anos 60, Pádua insistia na necessidade de cada pessoa, na rotina diária, escolher opções por comportamentos protetores da saúde, em oposição aos comportamentos de risco.

Muito conhecedor e bom professor, sabia transmitir os seus vastos conhecimentos, mas com o cuidado de demonstrar a respetiva base científica para os explicar.

Eis dois exemplos paradigmáticos dos seus ensinamentos: o fumo do tabaco e a hipertensão arterial.

O fumo provocado pela combustão da folha do TABACO, quer fumado diretamente quer de forma passiva, está, comprovadamente, associado não só ao cancro do pulmão, como também a doenças cardíacas (como a angina de peito ou o enfarte do miocárdio).  Como se sabe, em espaços fechados, a poluição do ar interior provocada pelo fumo do tabaco é inalada por todos, mesmo por aqueles que não fumam. É aquilo a que os ingleses chamam de fumar em segunda mão (ou fumo passivo). Em Portugal, a luta para aprovar a Lei do Tabaco foi um processo difícil. Mesmo depois da sua aprovação, que proíbe o fumo em espaços fechados, alguns, desesperados, insistiam em continuar a fumar em locais proibidos. Consideravam-se intocáveis! Foi o caso do próprio José Sócrates e do seu ministro Manuel Pinho fotografados a fumar durante o voo de um avião fretado. Que figurões da República! A verdade, ao contrário deles, a Lei acabou por ser socialmente aceite e, seguramente, é, ainda hoje, a mais respeitada de toda a legislação que impõe regras (em particular, se comparada com o Código da Estrada). Que dizem as mães e pais que passaram a frequentar pastelarias e restaurantes em companhia das suas crianças? Que dizem os empregados de café que deixaram de fumar em segunda mão os cigarros dos clientes?

A HIPERTENSÃO ARTERIAL resulta, quase sempre, do excesso do teor de sal na alimentação. Por isso, é absolutamente essencial trocar o sal por ervas aromáticas, tanto frescas como secas (cebolinho, manjericão, coentros…). Realce-se que podem ser produzidas em casa desde que as respetivas sementes sejam plantadas em vasos. Quando uma pessoa é hipertensa o esforço do coração para bombear o sangue para a circulação do corpo é maior (como quem está a encher um pneu com uma bomba manual, também no fim, quando a pressão vai subindo o esforço é cada vez maior). Ora, sendo maior o esforço do coração, a sua fadiga manifesta-se por insuficiência cardíaca. Compreende-se, assim, antes de tudo, a necessidade em evitar o aparecimento da hipertensão arterial. Uma vez adquirida o seu tratamento é complicado.  A célebre cantilena que Fernando Pádua ensinava é realmente impressionante: metade das pessoas que tem hipertensão não sabe que é hipertenso; mas, a metade que sabe que tem hipertensão não faz o tratamento devido; da metade que trata a hipertensão, não faz corretamente o tratamento…

Moral da história:

Há lições e cantilenas que fazem pensar e mudar de vida!

Francisco George
Ex-Diretor-Geral da Saúde
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