Artigo de opinião publicado no “Diário de Notícias” 2 outubro 2024
Volto, hoje, mais uma vez, a escrever sobre a gripe, visto que é a mais importante e, inexplicavelmente, a menos temida das doenças infeciosas.
Muitos dos leitores poderão ignorar que a gripe é uma doença comum a animais e a seres humanos, motivo pelo qual é designada de zoonose. Sem qualquer dúvida, a gripe é a mais frequente e, simultaneamente, a mais grave das infeções humanas com origem zoonótica.
Sabe-se, com comprovação científica inquestionável, que os vírus da gripe são mantidos na natureza em aves silvestres migratórias, como os patos selvagens, que armazenam e transportam os vírus ao percorrerem rotas imensas, intercontinentais. Enquanto reservatório, as aves estão aparentemente saudáveis, apesar de eliminarem os vírus pelas fezes. Todavia, acontece que esses vírus podem, também, provocar doença em aves (gripe aviária). Quem não se lembra da célebre crise da gripe das galinhas de 1997, em Hong Kong e depois na China?
Nesta situação, as aves são hospedeiros dos vírus e, por isso, constituem um problema de Saúde Pública pela possibilidade de transmitirem a gripe entre várias espécies, incluindo a pessoas. Os vírus “saltam” sem barreiras de uma espécie para outras, dando origem à formação de cadeias de transmissão. Mas, sublinho que, para além de seres humanos, são muitos os animais pertencentes a diferentes classes e ordens que podem adquirir a gripe: aves de capoeira, porcos, furões, morcegos, cavalos e até tigres como sucedeu, em 2004, quando os tigres de um jardim zoológico de Banguecoque foram alimentados com carcaças de galinhas provenientes de um foco de gripe aviária.
Ora, esta capacidade de a gripe poder incidir em tantas espécies diferentes, impossibilita, como se compreende, a sua eliminação (erradicação). Isto é, no futuro, pela certa, os habitantes do Planeta continuarão a ser confrontados com epidemias sazonais, alternadamente nos dois hemisférios, visto que o vírus da gripe dá a volta ao mundo em 180 dias à procura das estações do ano com climas frios. Nestes termos, vamos ter, entre nós, a habitual pressão exercida no Serviço Nacional de Saúde devida à próxima época gripal. Protejamo-nos para tal, desde o final do Outono até ao começo da Primavera de 2025, tendo em atenção que os vírus desta estação serão diferentes da época anterior, visto que, entretanto, ocorreram múltiplas mutações.
Conclusão lógica: os vírus da gripe são mais camaleões do que os próprios camaleões porque além da “cor da pele” também mudam a composição genética.
Conclusão oficial: Uma vez que não há Inverno sem gripe e que este ano não será exceção, é preciso atender ao apelo da nossa Direção-Geral da Saúde: “Vá lá vacinar-se”.
Francisco George
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