A Era das Vacinas (III)

Artigo de opinião publicado no “Diário de Notícias” 20 setembro 2023

Em semanas anteriores foram descritas nestas páginas as 3 etapas iniciais sobre a preparação de vacinas, desde a antivariólica, à atenuação ou inativação dos micróbios patogénicos (ex. antidiftérica), até ao método de fabrico por técnicas de engenharia genética, como acontece com a vacina contra a infeção pela hepatite B que deve ser administrada à criança recém-nascida, logo a seguir ao nascimento, antes de sair da maternidade. Foi, note-se, a primeira vacina utilizada contra uma doença oncológica, visto que previne o cancro do fígado.

Ver-se-á, hoje, que os avanços tecnológicos e científicos foram imensos, tendo permitido lançar novas vacinas, incluindo para a Pandemia de Covid-19.

4. Resume-se, a seguir, a espantosa descoberta obtida com surpreendente sucesso por Ugur Sahin e sua mulher Ozlem Tureci. Estes dois cientistas que trabalham na Alemanha são um casal de médicos de origem turca. Conseguiram produzir vacinas inteligentes que induzem a produção de anticorpos protetores, mas indiretamente. Isto é, em lugar da vacina ser feita a partir do agente viral causador da Covid-19, prepararam a injeção de um mensageiro (ARN) que depois de ser inoculado no organismo humano “dá ordens” para ser fabricada uma proteína igual à presente na espícula do vírus. Ora, o sistema imunológico ao identificar esta nova substância como estranha reage com a produção de anticorpos dirigidos especificamente para essa proteína presente no organismo, mas que é idêntica à viral. Depois, se o verdadeiro vírus for transmitido a uma pessoa, encontrará os anticorpos anteriormente produzidos pelo sistema imunitário que, assim, funcionam como protetores.

Essa mesma vacina contra o Covid-19, adaptada às novas variantes do vírus original que foram surgindo, continua a estar indicada, em 2023-2024, porque o vírus se mantém em circulação.

5. Por outro lado, é preciso recordar que “não há Inverno sem gripe”. Os diferentes tipos do vírus da gripe circulam nas semanas frias do ano, mas alternadamente nos dois hemisférios: quando faz frio no Brasil ou em Moçambique, faz calor em Portugal e vice-versa, quando é inverno em Portugal é a estação quente no Brasil ou Moçambique. Acontece que durante esta volta ao mundo os vírus vão sofrendo alterações (mutações), motivo pelo qual a vacina que foi aplicada na estação de inverno de 2022, já não é eficaz no ano seguinte. Por isso, tem que ser fabricada de novo com as previsões das mutações baseadas nas análises laboratoriais dos tipos de vírus quando circulam no outro hemisfério.

É oportuna a decisão tomada pelo Ministério da Saúde, no seguimento da proposta da DGS, em juntar a administração das duas vacinas para a gripe e Covid-19. Ainda bem que assim sucede. Deliberação acertada porque a vacinação simultânea é segura e muito compensadora em termos de custos. Aliás, todos os especialistas admitem que os resultados da vacinação são altamente custo-efetivo. Por outras palavras, em termos de custo-efetividade, os dinheiros públicos são bem utilizados porque a redução da probabilidade de ocorrerem internamentos hospitalares por doenças graves, evitadas pela vacinação, é lucrativa.

Moral: As vacinações contra a gripe sazonal e Covid-19 são gratuitas. Quem for vacinado compra, por zero euros, menos doenças para o inverno. O Estado paga e ganha!

(continua na quarta-feira)

Francisco George
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