A Era das Vacinas (II)

Artigo de opinião publicado no “Diário de Notícias” 13 setembro 2023

O artigo anterior foi dedicado à primeira fase das vacinas que começou na viragem do século XVIII para XIX em plena Revolução Industrial, mas antes dos primórdios da Microbiologia que germinou no seguimento das pesquisas impulsionadas pelo químico francês Louis Pasteur e pelo cientista alemão Robert Koch.

As investigações de um e de outro foram estimulantes. Pela primeira vez, as bases científicas dos seus trabalhos inauguraram um novo ciclo na História da Medicina. Desde então, os avanços científicos e tecnológicos foram decisivos para a preparação e afinação de novas vacinas destinadas a prevenirem, em segurança, muitas doenças infeciosas quer de origem bacteriana quer viral. Um imenso progresso.

2. Vacinas preparadas por inativação ou atenuação dos micróbios patogénicos.

Nesta fase, a essência das investigações sobre novas vacinas tinha, sempre, por objetivo descobrir a forma de enganar o sistema imunitário do corpo humano, levando-o a criar anticorpos contra os próprios micróbios presentes na vacina, mas sem provocarem doença. Para tal, era necessário transformar os micróbios de maneira a serem inofensivos, mas com a capacidade de induzirem respostas imunitária como se verdadeiros fossem.

Assim aconteceu com sucesso. Os principais agentes microbianos patogénicos causadores de doença humana foram atenuados ou inativados através de métodos laboratoriais inovadores. Assim, essas vacinas, depois de administradas, conseguem despertar a formação de anticorpos protetores pelo sistema imunitário, como se os agentes inoculados fossem patogénicos.

Os trabalhos experimentais conduzidos por Louis Pasteur e por Robert Koch, depois seguidos por muitos outros, foram determinantes para a obtenção e colocação no mercado de vacinas contra a raiva, tuberculose, difteria, tétano, tosse convulsa, poliomielite e gripe.

A descoberta da vacina antirrábica por Pasteur (1885) marca o início desta época, marcada pela interligação virtuosa entre a Microbiologia e a Medicina. A eficácia da vacina contra a raiva humana (viva atenuada) antecedeu a criação do famoso Instituto Pasteur de Paris. Em Portugal, logo em 1892, foi criado o Real Instituto Bacteriológico (mais tarde chamado de Câmara Pestana) para proteger as pessoas mordidas por animais raivosos.

Todas as vacinas, passaram a ser fabricadas a partir do agente microbiano que causa a respetiva doença, quer pela inativação (vacinas mortas) quer por atenuação (vacinas vivas atenuadas), a partir de culturas dos próprios agentes das doenças, tanto de natureza viral como bacteriana.

Se bem que tenham níveis de eficácia diferentes, foram introduzidas em programas de vacinação com resultados positivos indiscutíveis.

Realce-se que as vacinas contra a difteria, o tétano e a tosse convulsa são fabricadas, desde 1926, a partir das respetivas bactérias inativadas (mortas)

3. Vacinas fabricadas por recombinação do ADN

Incluem-se neste grupo as vacinas contra a hepatite B e contra a infeção pelo vírus do papiloma humano. Ambas, são fabricadas por métodos de engenharia genética que modificam os vírus originais, que deixam de ser patogénicos, mantendo a competência de formarem anticorpos. Como estas infeções virais podem evoluir para cancro, as vacinas são anticancerosas! A primeira contra o cancro do fígado e a segunda contra o cancro do útero.

(continua)

Francisco George
franciscogeorge@icloud.com