Opinião Pessoal (XIV)

Artigo de opinião publicado no “Diário de Notícias” 13 março 2024

Tendo eu entrado na Faculdade de Medicina de Lisboa em 1966 e terminado o curso em 1973 (há mais de 50 anos!), compreende-se que para um médico de formação humanista seja muito penoso ver as imagens emitidas diariamente por todas as estações de televisão sobre a evolução dos acontecimentos em Gaza e na Ucrânia. Os horrores, refletidos pelas incessantes matanças de civis e combatentes, são ateados por governantes belicistas. Obstinados, recusam dialogar e negociar. Desconhecem a importância da diplomacia. Fazem Guerra. Inexplicavelmente, recusam construir Paz. Mandam avançar canhões, tanques e mísseis. Morte e destruição. Muito sofrimento.

Escrevo sobre este tema depois de ter visto um magnífico documentário produzido, em 2023, para a Netflix intitulado “Segunda Guerra Mundial: na Linha da Frente”. Os conteúdos dos seis episódios da minissérie espelham a sucessão, bem organizada, de imagens reais de arquivo, mas devidamente restauradas e coloridas com recurso às novas ferramentas tecnológicas. A narração está a cargo do ator inglês John Boyega que, para além de competente, é absolutamente imparcial. O impressionante realismo faz reviver o tempo de 1939-1945.

Admito que no fim fiquei abalado. Emocionado. Mas, igualmente, muito revoltado.

Para quem não conseguir ver toda a série, recomendo, pelo menos, o sexto episódio sobre as derradeiras semanas da Guerra, em 1945. Este último segmento começa com o cerco dos Aliados a Berlim, logo seguido da queda de Hitler quando o Exército Soviético ultrapassa as últimas defesas alemãs. O documentário termina com as imagens arrasadoras das duas bombas atómicas que os americanos lançaram sobre Hiroshima (6 agosto de 1945) e em Nagasaki, três dias depois.

As filmagens realizadas em Dachau devem ser vistas com redobrada atenção, apesar da intensa comoção que provocam, porque fazem perceber que a extrema desumanidade aconteceu na Alemanha. Existiu mesmo e há relativamente pouco tempo.

Estou consciente que a objetividade histórica dos acontecimentos relatados é motivo de perturbação para todas as pessoas. Todas, sublinho. Mas, também estou em crer que é preciso reviver essa época na perspetiva de ser gerada a ideia do “nunca mais”.

Em termos de ficção, gostaria de imaginar os nossos principais líderes do Ocidente a verem esse documentário. A seguir, iria também apreciar a reação de cada um deles. Vem este pensamento a propósito de ter sido anunciada a decisão da União Europeia em aumentar a produção de mais armas, mais munições e mais bombas.

Será que não percebem que os cenários da II Guerra não podem regressar?

Será que não percebem a grandeza da Paz?

Francisco George
franciscogeorge@icloud.com

Opinião Pessoal (XIII)

Artigo de opinião publicado no “Diário de Notícias” 6 março 2024

Surpreendentemente, fomos chamados a votar já no próximo domingo, dia 10 de Março. Por esta razão, nas últimas semanas, a partir do início da pré-campanha eleitoral, tenho insistido em escrever crónicas relacionadas com a ponderação indispensável no processo de decisão final da opção de voto, em função do programa partidário e do candidato que se apresenta a primeiro-ministro.

Sou daqueles que reconheço que governar não está ao alcance de qualquer pessoa. Não é uma questão de mera simpatia e muito menos de aparência exterior ou do grau de popularidade. É, isso sim, absolutamente necessário que o líder do partido seja dotado de um vasto conjunto de atributos, designadamente de inteligência, sagacidade, capacidade de diálogo, de ouvir e de falar, de flexibilidade, de conhecimentos, de competência, bem como de serenidade e honestidade genuínas. Se assim acontecer, merecerá aceitação social e poderá receber mandato popular para governar em nome de todos.

É certo que o eleitor exigente, em puro exercício de pensamento, inclinar-se-á para escolher o candidato com aquelas qualidades que apontei. Claro que para votar tem que somar à sua própria consciência a confiança nas ações previstas em cada programa. Por outras palavras, tem que se rever nas propostas enunciadas que passarão a ser as suas, de preferência. Não poderá basear-se nem no instinto nem na pressão de marketing correspondente aos cartazes que enchem as ruas. Muito menos nas notícias falsas e fraudulentas (fake) que são frequentemente difundidas nas redes sociais do costume.

Mas, por outro lado, também é verdade que a análise resultante da leitura dos programas eleitorais faz transparecer o sentido e a tendência das políticas a serem concretizadas para os quatro anos da Legislatura.

Na minha opinião, estamos perante três opções possíveis: partidos da esquerda; centro-direita; e extrema-direita radical de raiz populista.

Por mim, defendo, antes de tudo o mais, as propostas que advogam melhores salários e pensões, menos pobreza, mais qualidade no acesso ao Serviço Nacional de Saúde, à Habitação, à Educação e à Justiça. No fundo, traduzem princípios que refletem o desejo de justiça social e de mais igualdade. Mais prosperidade. Mais democracia.

Francisco George
franciscogeorge@icloud.com

Opinião Pessoal (XII)

Artigo de opinião publicado no “Diário de Notícias” 28 fevereiro 2024

Atendendo à proximidade das eleições legislativas, resolvi continuar a escrever focado em assuntos com tonalidade mais adequada à opção política relacionada com o voto de 10 de Março.

Hoje, pretendo clarificar a importância que o Serviço Nacional de Saúde assume na génese da própria democracia e, portanto, na decisão de votar.

A meu ver, é preciso analisar com ponderação o programa apresentado por cada partido, em especial o capítulo dedicado ao Estado Social e, principalmente às medidas propostas para as políticas públicas de Saúde.

Preciso.

A acessibilidade universal aos cuidados de saúde, quer preventivos quer assistenciais, tanto em centros de saúde como hospitalares ou cuidados continuados, é condição básica para todas as pessoas, famílias e comunidades. Só assim, estarão coletivamente envolvidas no processo de construção que visa alcançar mais produção. Mais prosperidade.

A Saúde Pública, como componente principal para o desenvolvimento socioeconómico do país, compreende a seguinte equação:

Literacia + exercício físico regular + alimentação saudável, equilibrada em calorias e com  redução de açucares e substituição do sal por ervas aromáticas + inexistência de comportamentos aditivos nem dependências, incluindo moderação do consumo de álcool + eliminação da exposição ao fumo do tabaco + participação dos doentes no respetivo tratamento da doença,  em regime de coprodução de resultados terapêuticos + justeza na atribuição de benefícios fiscais e prestações sociais concentradas em crianças que mais precisam, sobretudo inseridas em famílias pobres + garantia de acesso  a todos os níveis do Serviço Nacional de Saúde, sem barreiras para residentes ou imigrantes, independentemente dos rendimentos familiares + qualidade ambiental, incluindo em infraestruturas de abastecimento de água potável, saneamento básico e fornecimento de energia elétrica ao alcance de todas as famílias = VIVER MAIS TEMPO E COM MELHOR QUALIDADE DE VIDA.

Esta conclusão da equação traduz, necessariamente, um ganho marcante em saúde que é refletido pela redução do fosso social que separa ricos e pobres (social gap).

Por outras palavras, o gradiente social que progressivamente seria estabelecido entre crianças, jovens, adultos e idosos em função dos respetivos proveitos materiais, ficará atenuado. Assim, haverá mais igualdade. Menos iniquidades. Mais Democracia.

Francisco George
franciscogeorge@icloud.com

Opinião Pessoal (XI)

Artigo de opinião publicado no “Diário de Notícias” 21 fevereiro 2024

Ao jantar na “Ribeirinha de Colares”, em amena conversa com netos, o mais novo, ainda adolescente, influenciado pelos debates políticos pré-eleitorais, colocou-me a questão de querer perceber a diferença entre os candidatos da Esquerda e da Direita. Pretendia saber a justificação da designação e, também, classificar cada um dos partidos concorrentes às eleições de 10 de Março.

Naturalmente, procurei pensar na minha resposta que teria que ser clara, mas sem ser tendenciosa. Resolvi introduzir algum conteúdo pedagógico.

Foi um exercício difícil que julgo ter conseguido com sucesso.

Relato.

Comecei por dizer que a origem da designação de esquerda ou de direita estava, no plano histórico, associada à Revolução Francesa no final do século XVIII. Nessa altura, nas assembleias, os lugares ocupados pelos representantes do povo eram do lado esquerdo e os aristocratas, defensores da Monarquia, sentavam-se do lado direito. Em termos físicos era uma exposição facilmente compreensível.

Ainda sobre a disposição dos assentos, fiz um esquema de um hemiciclo ao estilo da Assembleia da República. Com o desenho foi mais fácil explicar que havia lugares não só à esquerda como à direita, mas também ao centro e nos extremos.

A seguir foi necessário passar à fase dos esclarecimentos sobre as diferenças ideológicas. Comentei que os da Esquerda queriam mudanças rápidas no sentido da melhoria das condições de vida. Lutavam por salários mais altos. Não queriam ser explorados. Combatiam por condições de habitação dignas e pela prosperidade coletiva. Pela Justiça social. Já os da Direita eram conservadores. Não desejavam qualquer mudança de regime. Não tinham preocupações sociais.

Eram estas as ideias básicas para aquele tempo. Atualmente, apesar de terem passado 235 anos, permaneceram as designações de Esquerda e Direita, respetivamente para progressistas e para conservadores.

A conversa prosseguiu.

Acrescentei, logo depois, que muitos Estados-membros da União Europeia mantinham a mesma tradição na ocupação de lugares dos deputados nos respetivos parlamentos.

Foi então, que perguntou:
–  Ó Avô, como é em Portugal?

Respondi de imediato:
– Os 230 deputados da Assembleia da República sentam-se nos lugares ordenados da direita para a esquerda, assim: na estrema direita está o CHEGA, depois a Iniciativa Liberal, o PSD, o PAN, o PS, o LIVRE, o PCP e o Bloco de Esquerda.

Comentou logo:
– Já percebi!

Francisco George
franciscogeorge@icloud.com

Opinião Pessoal (X)

Artigo de opinião publicado no “Diário de Notícias” 14 fevereiro 2024

Sobre as eleições, já escrevi que, para mim, as medidas preconizadas para o Serviço Nacional de Saúde (SNS) nos programas eleitorais são determinantes na opção do voto.

Considero que todas as pessoas residentes em Portugal deverão ter direito a cuidados de saúde de qualidade, sem nenhuma discriminação.

O SNS é financiado pelo Estado, isto é, por verbas oriundas da coleta de impostos que todos pagamos. Este ano, pela primeira vez, as despesas do Orçamento com a Saúde ultrapassam 15 mil milhões de euros.

Curiosamente, quando analiso propostas associadas ao SNS, revivo o tempo da sua criação em 1979. Sinto prazer em recordar os dias antes da aprovação da Lei pelo entusiasmo contagiante vivido por muitos de nós. Na altura, eu era um jovem médico, delegado de saúde no pequeno concelho de Cuba, perto de Beja.

Em 1978, Mário Soares formara o II Governo Constitucional que durou apenas 7 meses. Apesar do curto período, houve energia para lançar as ideias principais que iriam ser a base da Lei aprovada no ano seguinte. O ministro da Saúde, António Arnaut, visitou o Baixo Alentejo para ensaiar os seus projetos de integração das unidades que estavam até então dispersas em pequenas “capelas”: o hospital concelhio da Misericórdia, a assistência aos tuberculosos (IANT), o centro de saúde, os serviços da Caixa de Previdência e da Casa do Povo… Essa dispersão, não só física como também funcional, marcada pela multiplicidade de chefias, representava um sério obstáculo à nova organização dos cuidados de saúde. A mudança era difícil. Mas, a coragem e determinação de Arnaut eram geradoras de inspiração e ânimo.

Uma vez fui ao Gabinete do Ministro, tendo sido recebido por um médico que deu importantes contributos à Reforma que se aproximava. Nunca esqueci a classe de Manuel Sá Correia, obstetra em Viseu que estava em Lisboa como assessor para a Saúde Materna do Ministério. Insistia que proteger mães e crianças era uma prioridade absoluta. Estratégia que foi cumprida com sucesso.

No plano político, Arnaut terminou o seu mandato de ministro em consequência da queda do II Governo. Porém, como deputado, continuou a batalhar pela construção do Serviço Nacional de Saúde que conseguiria aprovar na Assembleia da República, no dia 28 de Junho de 1979, tendo, simbolicamente, presidido à Sessão, uma vez que era Vice-Presidente da Assembleia.

Francisco George
franciscogeorge@icloud.pt

Opinião Pessoal (IX)

Artigo de opinião publicado no “Diário de Notícias” 7 fevereiro 2024

O Instituto Português de Oncologia comemorou o seu primeiro centenário. No âmbito das iniciativas promovidas pela atual Administração, a Imprensa Nacional acaba de editar o volume intitulado “O Essencial sobre o IPO Lisboa”, escrito pela historiadora Helena da Silva. Trata-se de um pequeno livro que descreve o percurso do Instituto ao longo de 100 anos. Considero que a obra, para além de oportuna, assume indiscutível interesse, sobretudo no contexto atual de eleições, visto que apresenta propostas a serem implementadas a curto, médio e longo prazos. Acaba por ser a história do IPO desde a sua fundação até ao futuro.

Há 50 anos, quando terminei o curso na Faculdade de Medicina de Lisboa, o IPO era uma referência muito respeitada por todos os médicos. Mas, na altura, lembro-me de ter ficado admirado com a sua dependência em relação ao Ministério da Educação e não ao Ministério da Saúde, como eu imaginaria mais normal. Fui, então, deslindar a razão que explicaria a minha estranheza inicial. Não demorei a descobrir que o Instituto fora criado por iniciativa do ministro da Instrução Pública, António Sérgio, na tripla perspetiva da promoção da investigação, do ensino e da assistência.

O decreto de António Sérgio, logo promulgado pelo Presidente Manuel Teixeira Gomes, a 29 de Dezembro de 1923, desenhou, para sempre, a fronteira para o novo tempo da Medicina Portuguesa.*

Encontrei, igualmente, a explicação para as duas denominações sucessivas do Instituto: primeiro “estudo do cancro” e depois “de oncologia”.

Preciso.

Na Antiguidade Grega, os médicos observaram que as veias dilatadas e vasos linfáticos engorgitados que rodeavam o aparecimento de uma massa (tumor) faziam lembrar as patas de um caranguejo. Por isso, chamaram à massa Karkinos que em grego significa caranguejo e que traduzido para o latim é cancer. Ora, assim se explica que o símbolo do IPO, ainda hoje, seja a imagem de um caranguejo.

Por outro lado, como o aparecimento de uma massa era condição para estabelecer o diagnóstico de cancro e, uma vez que em grego onkos significa massa, conclui-se que a expressão Instituto Português de Oncologia é, absolutamente sinónima de Instituto Português para o Estudo do Cancro, designação que consta do Decreto de 1923.

* Relembro que António Sérgio e Teixeira Gomes são figuras maiores da Cultura e da Política na primeira metade do Século XX.

Francisco George
franciscogeorge@icloud.com

Opinião Pessoal (VIII)

Artigo de opinião publicado no “Diário de Notícias” 31 janeiro 2024

Sobre as eleições de 10 de Março já aqui escrevi que a minha escolha resultará da apreciação que eu mesmo irei fazer até ao momento antes de colocar na urna o boletim de voto. A decisão decorrerá do conteúdo do Programa Eleitoral, sobretudo para a Saúde e da minha análise sobre o perfil de cada candidato às eleições para aplicar as propostas anunciadas. Claro que neste processo, o pretendente a primeiro-ministro assume o peso principal.

Já aqui manifestei a minha opinião em considerar que votar é quase um dever para quem tem mais de 18 anos de idade. Por conseguinte, nas semanas que nos separam até 10 de Março há tempo para refletir, desde já, nas ideias e nas políticas públicas que cada Partido pretende desenvolver. Mas, é essencial que os programas sejam realistas na perspetiva de poderem ser realizados.

Por outras palavras, é preciso distinguir se determinado discurso político traduz ideias exequíveis ou se, pelo contrário, são demagógicas.

A esse propósito e a título de mero exemplo, relembro que John Kennedy, em 1961, proferiu o célebre discurso a prometer a ida do homem à Lua até 1970. Muitos julgaram que era uma promessa trapaceira e até impossível de realizar. Porém, como se sabe, foi cumprida e antes do tempo previsto.

Imaginemos, agora, passados 55 anos dos inesquecíveis passos de Neil Armstrong na superfície lunar, que em Portugal surge um candidato a prometer a “Lua”, traduzida em 2000 euros mensais de pensão mínima para todos, se ganhar as eleições …

Não gosto de demagogias, sublinho.

Para mim, o contrato social para a Saúde ocupa atenção principal. A opção em quem votar impõe a garantia do funcionamento regular do Serviço Nacional de Saúde que possibilite o acesso, em condições de igualdade, a pobres ou ricos, a portugueses ou estrangeiros ou imigrantes. Para tal, as reformas terão que ser implementadas em diálogo com os respetivos representantes de sindicatos e ordens profissionais, na certeza que as carreiras têm que ser atrativas em todos os planos, incluindo os regimes de remuneração. Há que investir mais em saúde mental e nos serviços de saúde pública, dando primazia à prevenção das doenças e promoção da saúde. Revitalizar a capacidade tecnológica do SNS e clarificar a relação com o setor privado são aspetos prioritários.

(continua)

Francisco George
franciscogeorge@icloud.com

Opinião Pessoal (VII)

Artigo de opinião publicado no “Diário de Notícias” 24 janeiro 2024

As eleições aproximam-se. Naturalmente, cada pessoa é livre de votar. A sua preferência resultará da análise das propostas apresentadas pelos diferentes partidos. A mudança do sentido de voto, de eleição para eleição, é um acontecimento habitual em regime democrático. Se assim não fosse, as pessoas só votariam uma única vez na sua vida…

Agora, à distância de poucas semanas até ao dia das eleições, é tempo para um julgamento tranquilo, após leitura atenta das propostas eleitorais, sem excluir o seguimento dos debates entre os candidatos.

Há, ainda, muito tempo pela frente. Cada eleitor poderá avaliar os programas e fazer uma análise comparativa. Como se sabe, ao contrário das eleições para as autarquias locais, só os partidos podem concorrer à Assembleia da República, tal como define a Constituição da República. Serão eleitos 230 deputados.

Como, muitas vezes, as propostas prometidas pelos dirigentes dos partidos não são inteiramente cumpridas, também interessa ter em conta o caráter dos líderes.

No meu caso, a minha opção de voto resultará não só do conteúdo dos princípios declarados em cada Programa, mas também, do perfil do candidato a primeiro-ministro (PM).

O meu modelo para votar é simples: programa partidário + líder = decisão do voto.

Antes de mais, importa realçar que votar é bom. É um direito e quase um dever. Pelo menos, no plano cívico é mesmo um dever. Só quem vota poderá, em consciência, exprimir-se para aplaudir ou criticar a condução dos assuntos políticos do Estado e a situação do país.  A abstenção que traduz desinteresse em escolher as políticas e os políticos, não é aceitável nas sociedades democráticas.

Eu vivi 27 anos em regime autoritário de Salazar e Caetano. Sei bem o significado da ausência de liberdades. Quando, em 1975, votei para a Assembleia Constituinte senti uma alegria que não consigo descrever em palavras.

Agora, a 10 de Março, no que me diz respeito, atendendo à vida de médico que exerço desde há 50 anos e às funções oficiais que já desempenhei, para mim, o capítulo mais importante do Programa Eleitoral é o que se refere à Saúde, no contexto do Estado Social.

O meu voto recairá no partido que assegure o pleno funcionamento do Serviço Nacional de Saúde, mas associado ao candidato a PM com o perfil que me inspire confiança. Voltarei ao tema.

(continua quarta-feira)

Francisco George
franciscogeorge@icloud.com

Opinião Pessoal (VI)

Artigo de opinião publicado no “Diário de Notícias” 17 janeiro 2024

Termino hoje as notas que escrevi sobre doenças transmitidas por mosquitos, incluindo o paludismo (conhecido, entre nós, por sezões).

Relembro o ciclo do agente do paludismo: no momento da picada o mosquito aspira sangue e o parasita (se estiver presente no sangue da pessoa que foi picada) que se multiplica no estômago do mosquito. Quando o mosquito voltar a picar outra pessoa, além de sugar o sangue para se alimentar, durante a picada, também injeta nessa pessoa o parasita que transporta.

Assim acontecem as doenças transmitidas por vetores.

No caso do paludismo, é preciso acentuar que há uma especificidade absoluta entre o parasita da doença e o mosquito que a transmite. Isto é, apenas os mosquitos do género Anopheles têm capacidade para transmitir o paludismo.

Eu sou daqueles que pensam que o paludismo não deverá regressar a Portugal porque a espécie do mosquito aqui existente, Anopheles artroparvus, não aceita o parasita africano do paludismo. Por outras palavras, os parasitas do paludismo não podem completar o respetivo ciclo de vida porque não se multiplicam no estômago dos mosquitos aqui existentes, mesmo que um doente com paludismo, proveniente de África, seja picado pelo Anopheles artroparvus. Isto é, em Portugal, o ciclo do parasita é interrompido.

Realço que a luta de erradicação do paludismo em Portugal (meados do século XX), conduzida por Francisco Cambournac, eliminou a estirpe do parasita Plasmódio, agente da doença, pelo tratamento com quinina de todos os doentes. Sublinho: já não há pessoas residentes em Portugal com o parasita no sangue capaz de se reproduzir no mosquito “português”.

Os mosquitos incomodam, sobretudo à noite, picam e provocam lesões cutâneas com prurido insistente, MAS NÃO TRANSMITEM PALUDISMO.

Bem diferente, é o risco que existe de surgir uma epidemia de dengue, chikungunya ou de zika. São infeções virais, todas transmitidas por mosquitos do género Aedes. No Continente, estes mosquitos já foram identificados, mas não infetados. 

Para além das consequências em Saúde Pública, especialmente o risco de alterações fetais originadas pela infeção do vírus zika em mulheres grávidas, o turismo seria atingido com gravidade. Como é natural, os turistas não passam férias em zonas de risco…

Conclusão: é urgente que o Estado invista mais em prevenção. Sem demoras.

Francisco George
franciscogeorge@icloud.pt

Opinião Pessoal (V)

Artigo de opinião publicado no “Diário de Notícias” 10 janeiro 2024

Para continuar a “série” da crise climática, dedico o espaço de hoje ao paludismo.  Irei clarificar a questão relacionada com o risco de o paludismo regressar a Portugal. Ora, esse risco é quase zero, apesar de ser verdade que o aquecimento global é gerador de condições ambientais favoráveis à multiplicação de diversas espécies de mosquitos vetores de doenças.

O paludismo é um caso especial.

Tentarei escrever por palavras simples, apesar da complexidade do assunto. Lembrar-me-ei da experiência que vivi em África e, sobretudo, dos ensinamentos de Francisco Cambournac.

Começo pelo princípio. O paludismo, também chamado malária, é uma doença que uma pessoa pode adquirir na sequência da picada de um mosquito-fêmea Anopheles, mas só quando esse mosquito transporta um parasita do género plasmódio.

Por agora, vamos esquecer a famosa advinha sobre “quem apareceu primeiro, o ovo ou a galinha?”

Voltando ao mosquito.

Note-se que só as fêmeas se alimentam de sangue, devido à necessidade das suas refeições terem de ser ricas em proteínas por razões associadas à postura de ovos (já os machos alimentam-se de sucos vegetais). A fêmea-mosquito, quando tem fome ou sede, pica uma pessoa para se alimentar. Se esta refeição sanguínea, obtida pela picada, sugar sangue humano que tenha parasitas do paludismo irá reter no seu estômago esses mesmos parasitas. Acontece que estas formas parasitárias reproduzir-se-ão no próprio estômago do mosquito. Sublinho que esta reprodução é sexuada. Isto é, as formas parasitárias femininas e masculinas do plasmódio, ambas aspiradas durante a picada, multiplicam-se no mosquito. Depois, as novas gerações do parasita, que resultaram desta reprodução, serão inoculadas quando o mosquito-fêmea se alimentar de novo pelo sangue de outra pessoa. É assim que esta pessoa, ao ser picada, adquire os parasitas que se encontram no mosquito que penetram nos glóbulos vermelhos do seu sangue, onde irão ter nova multiplicação, mas assexuada.

Em síntese, o ciclo dos parasitas tem duas multiplicações, sendo uma sexuada (no mosquito) e outra assexuada na pessoa que irá adoecer porque ficou com os parasitas no seu sangue. Se, por mero acaso, for picada por outro mosquito-fêmea, esses parasitas serão sugados juntamente com o sangue e haverá, de novo, reprodução sexuada e assim por diante…

(continua quarta-feira)

Francisco George
franciscogeorge@icloud.com