Opinião Pessoal (IV)

Artigo de opinião publicado no “Diário de Notícias” 3 janeiro 2024

Conheci de perto Francisco Cambournac (1903-1994). Era um médico e cientista muito respeitado a nível internacional. Tinha sido diretor da Organização Mundial da Saúde para a Região Africana. Em 1983, acompanhei-o nas matas da Guiné-Bissau a ensinar os novos técnicos de laboratório a diagnosticar paludismo. Mesmo sem a ajuda de corantes treinava os guineenses na observação ao microscópio de lâminas com uma gota de sangue para poderem identificar a presença dos parasitas vivos dentro dos glóbulos vermelhos. Cambournac tinha 80 anos e eu 36. Ao percorrermos as picadas através dos mangais, por vezes ele parava para tirar do bolso uma luneta telescópica para espreitar uma ave que tinha visto ao longe. Sabia o nome comum e em latim da espécie que logo reconhecia. Foi o único sábio que conheci.

Nos dias de hoje, relembro as suas conversas sobre a erradicação do paludismo em Portugal.

Vem este tema a propósito da atual crise climática e do aquecimento global que resumi em crónicas anteriores. Isto, porque a invasão de novos mosquitos capazes de transmitirem doenças é facilitada não só pelas condições climáticas favoráveis à reprodução destes artrópodes (o aumento da temperatura transforma regiões temperadas em subtropicais) e, também, a maior mobilidade de viajantes e mercadorias (como pneus). A crescente resistência dos mosquitos aos inseticidas é outra preocupação afim.

Foi assim que o mosquito Aedes aegypti surgiu no Funchal, em 2005, causando em 2014 uma epidemia de dengue que motivou elevados prejuízos da economia regional pela crise de turismo que originou.

Desde 2017, os sistemas de vigilância de vetores identificaram a espécie Aedes albopictus em Penafiel e, no ano seguinte, em Loulé. Em 2022, foram reconhecidos esses mosquitos no Alentejo e, em Setembro de 2023, foi confirmada a sua presença no município de Lisboa. Por isso, a DGS e o Instituto Ricardo Jorge tomaram medidas para reforçar a vigilância entomológica (aumento da captura de mosquitos em armadilhas a fim de serem analisados) e a vigilância epidemiológica pelos serviços de saúde pública, visto que há riscos potenciais de emergência de doenças de transmissão vetorial como chikungunya, dengue ou zika. Mas, não de paludismo, como veremos.

(continua quarta-feira)

Francisco George
franciscogeorge@icloud.com

Opinião Pessoal (III)

Artigo de opinião publicado no “Diário de Notícias” 27 dezembro 2023

Ainda sobre a crise climática, relembro que o aquecimento global atinge diferentes áreas. Proponho focar o tema em Portugal e nas regiões do Atlântico e Mediterrâneo.

Realço que os especialistas admitem que os fenómenos climáticos extremos serão mais frequentes, mais intensos e mais graves.

Repetir-se-ão ondas de calor com efeitos críticos, visto que são caracterizadas por temperaturas elevadas acima do esperado para determinada semana, de duração prolongada e com noites tropicais (20 °C) que representam riscos para a saúde humana, saúde animal e para a ignição de incêndios florestais.

Conhecem-se como efeitos negativos para a saúde pública: descompensação de doentes crónicos (insuficiência cardíaca, insuficiência respiratória e doenças oncológicas) e aumento da mortalidade de idosos.

Sublinho que José Marinho Falcão foi o primeiro cientista a analisar os efeitos provocados por ondas de calor. Para tal, criou o sistema “Ícaro” para medir o risco de mortalidade provocado pelas ondas de calor.

Recordo que no Verão de 2003, ocorreram ondas de calor no Sul da Europa. Então, as temperaturas do ar durante os meses de Junho, Julho e Agosto desse ano, registaram valores anormalmente altos.

Um dia de Agosto, o meu homólogo francês telefonou-me a dizer que as agências funerárias não tinham capacidade instalada para resolverem o problema de tantos óbitos. Relatou-me que os corpos estavam nas câmaras frigoríficas do principal mercado de Paris, devido a essa falta de resposta. Respondi-lhe que a capacidade em Portugal era suficiente porque os serviços funerários estavam preparados para o Inverno, uma vez que a mortalidade é muito superior no tempo frio.

Recentemente, em Julho passado, ocorreu uma intensa onda de calor na região do Mediterrâneo (na Tunísia a temperatura atingiu 49°C). Porém, Portugal não foi afetado devido ao efeito protetor do anticiclone dos Açores (situação distinta da onda de calor verificada 20 anos antes).

O relatório Lancet Countdown, em 2023, apresentou estimativas para o ano de 2050, antecipando o aumentou das mortes provocadas por ondas de calor até quatro vezes mais, se não forem cumpridos os acordos de Paris e da COP28.

Isto é, a inação climática aumenta a mortalidade. 

(continua)

Francisco George
franciscogeorge@icloud.com

Opinião Pessoal (II)

Artigo de opinião publicado no “Diário de Notícias” 20 dezembro 2023

Retomo o tema da crise climática, uma vez que constitui um dos principais desafios para todos nós. A vida dos nossos filhos e netos dependerá daquilo que agora decidimos e, sobretudo, do que faremos para evitar a subida da temperatura além de 1.5 °C, em comparação com a era pré-industrial.

Como já mencionei, a questão do aquecimento global está relacionada com a emissão de gases com efeito de estufa provocada pela combustão de carvão, petróleo ou de gás.

Ora, o efeito de estufa traduz-se pela retenção do calor terrestre que é impedido de se dissipar devido à ação desses gases (dióxido de carbono e metano) que têm repercussões diretas no aquecimento do Planeta. Esse efeito, é assim chamado, porque faz lembrar as estufas de vidro dos jardins que são concebidas para aquecerem a temperatura interior porque as vidraças impedem a dispersão do calor originado pela irradiação solar. O calor é, assim, retido na estufa como sucede no Planeta…

A emissão artificial desses gases iniciou-se com a Revolução Industrial devido à entrada em funcionamento de múltiplos tipos de unidades fabris, explorações pecuárias e, ainda, do desenvolvimento de transportes rodoviários, aéreos ou marítimos que utilizam como energia a combustão de carvão, petróleo e gás natural.

Em Portugal, a emissão desses gases poluentes teve início no tempo da Regeneração em consequência do começo da atividade industrial e das ferrovias para o transporte de mercadorias e de pessoas, com base no uso do carvão como principal combustível.

Já as explorações de agropecuária têm responsabilidades pela libertação de gás metano. Sublinhe-se que os ruminantes são fonte principal da produção de metano, uma vez que é libertado durante o processo digestivo nos animais dessas explorações, especialmente bovinos.

Estas razões explicam o recente acordo unânime, tomado por 197 países reunidos no Dubai (COP28), sobre a transição gradual sem combustíveis fósseis até 2050. Portugal comprometeu-se a alcançar a neutralidade carbónica até 2045.

Decisão histórica que estará para sempre ligada à luta que Guterres conduziu na ONU. Mas, o seu sucesso exige ação daqui em diante.

(o tema continua na quarta-feira)

Francisco George
franciscogeorge@icloud.com

Opinião Pessoal (I)

Artigo de opinião publicado no “Diário de Notícias” 13 dezembro 2023

Nas páginas do DN, tem hoje início um novo formato de pequenas crónicas semanais. Pretendo apresentar apontamentos, escritos na primeira pessoa, sobre diversos assuntos associados à minha experiência de vida.

Para começar, escolhi a cor verde, como primeiro tema, devido à época, não só pela aparência da árvore de Natal, mas também pelos recentes debates sobre a crise climática havidos durante a Conferência do Dubai, promovida pela Organização das Nações Unidas (COP28).

Antes de tudo, realço a evidente beleza do verde e das suas diferentes tonalidades. Essa beleza está imediatamente relacionada com a Natureza, com o Planeta e o seu Ambiente. Razão pela qual os movimentos ambientalistas preferem o verde como símbolo. Acertadamente, diria.

Considero apropriado que cada um de nós dedique a máxima atenção ao problema do aquecimento global e que cada um de nós contribua para reduzir este problema. Para tal, é necessário pensar no cerne da crise.

Tentarei ajudar a clarificar alguns dos aspetos que estão na origem das mudanças climáticas.

A esse propósito, há que reconhecer que ao longo da longa História do Planeta, traduzida em 4 mil milhões de anos, terão havido inúmeras alterações climáticas que ocorreram muito antes do aparecimento da Humanidade que surgiu, apenas, há cerca de 300 mil anos.

Agora, a questão de fundo é outra, visto que a preocupação está centrada na velocidade das alterações climáticas que, comprovadamente, estão em curso. Velocidade, repito.

Tudo isto resulta da atividade humana, bem diferente antes e depois da Revolução Industrial. Isto é, antes e depois da utilização de combustíveis fósseis como fonte de energia. Esses combustíveis, assim designados por resultarem da decomposição de fósseis soterrados durante milhares de anos, são o petróleo, o carvão e o gás.

Por outras palavras, o uso destes combustíveis, sobretudo na indústria e nos transportes, liberta gases poluentes para a atmosfera (como o carbono) que, por sua vez, provocam o efeito de estufa que faz aquecer, artificialmente, o Planeta.

(voltarei ao tema)

Francisco George
franciscogeorge@icloud.com

Pobreza & Doença

 

Artigo de opinião publicado no “Diário de Notícias” 6 dezembro 2023

A relação causa-efeito entre a pobreza e a doença foi estabelecida há muito por Edwin Chadwick (1800-1890), em Inglaterra. Foi no tempo do rei Guilherme IV, em 1832, que o primeiro-ministro, Charles Grey, solicitou a Chadwick um relatório pormenorizado sobre os efeitos da pobreza na sociedade. Os seus trabalhos foram sucessivamente confirmados desde a publicação dos resultados. As conclusões são, ainda, citadas nas escolas de Saúde Pública, uma vez que foi a primeira demonstração, cientificamente comprovada, da existência de um círculo vicioso traduzido pela pobreza que acentua o risco de doença e, por outro lado, da doença que aumenta a pobreza.

A seguir, foram muitos os cientistas e filósofos que chegaram às mesmas deduções de Chadwick. Em Portugal, já no século XX, durante a Pandemia de Gripe Asiática de 1957, Arnaldo Sampaio verificou que a gripe era mais intensa e mais grave nas famílias residentes nos bairros pobres de Lisboa.

Mais recentemente, o médico inglês Michael Marmot revelou que as perturbações iniciais de demência surgem 15 anos antes nas famílias de baixos rendimentos quando comparadas com as de altos rendimentos.

Por outras palavras, a pobreza é geradora de múltiplas privações materiais e sociais que não podem ser ignoradas por ninguém. No fundo, a ideia política do Estado Social surgiu para proteger as famílias vulneráveis que se encontram expostas a mais riscos.

Sabe-se, agora, comprovadamente, que as crianças quando, por motivos de pobreza familiar, são privadas de alimentação, habitação, higiene e ensino têm, no futuro, riscos de doenças e de aprendizagem.

Os médicos pediatras concordam que a prioridade máxima, em termos sociais, são as crianças. Por isso, o Estado não pode, nem deve permitir que crianças estejam expostas às consequências da pobreza. As crianças têm que ser alvo de medidas protetoras concretas, nomeadamente de subsídios discriminados, positivamente, apenas para as situações de famílias de baixos rendimentos.

À semelhança do complemento solidário para idosos, considera-se urgente a criação de um COMPLEMENTO SOLIDÁRIO PARA CRIANÇAS. É uma questão de justiça social.

O que não se compreende é o atual panorama português marcado por tanta pobreza. Ainda há poucos dias, o Instituto Nacional de Estatística divulgou dados que envergonham todas as pessoas, uma vez que a taxa de risco de pobreza voltou a subir, especialmente em Lisboa. Uma em cada cinco pessoas vive na pobreza. Uma situação que devia ser motivo de desilusão para todos, mas especialmente para quem governou a República nos últimos 50 anos.

Se é verdade que uma criança de família pobre ao nascer na Maternidade Alfredo da Costa tem condições iguais à de uma outra criança filha de pais ricos, também é verdade que depois, na infância, na adolescência e na juventude, ambas serão separadas por um fosso (gap), cada vez maior com a idade, gerador de um gradiente social associado a desigualdades entre elas.

Exercício de moral: desafia-se o leitor a imaginar, como mera hipótese, que tem um rendimento líquido mensal de 591 euros. Ora, pense o que seria a sua vida presente e futura e a daqueles que de si dependem.

A Democracia, no plano social, deve ser entendida como igualdade de oportunidades. Para tal, impõe-se reduzir o fosso que sapara ricos e pobres, sobretudo no que se refere ao futuro das crianças.

Francisco George
franciscogeorge@icloud.com

Saúde Oral (II)

Artigo de opinião publicado no “Diário de Notícias” 29 novembro 2023

Os 7 Conselhos Principais

Como primeiro conselho, já aqui foi realçada a importância da higiene oral com utilização criteriosa de escova e pasta dentífrica adequadas à idade, a partir da infância, para evitar a cárie, tanto dos 20 dentes de leite como dos 32 da dentição definitiva.

Continuam, hoje, as recomendações sob a forma de conselhos. São aparentemente simples, mas baseadas em estudos científicos.

Segundo conselho:  é necessário visitar periódica e regularmente o médico dentista, mesmo na ausência de dores ou outros sintomas, na perspetiva da prevenção de problemas da boca e dos dentes. É um aviso preventivo que deverá ser observado ao longo do percurso de vida. Aquilo que o médico dentista disser deve ser tido como prioridade. As suas opiniões para promoção da saúde ou prevenção de doenças orais são sempre sabedoras. Inquestionáveis. Por outras palavras, devem ser consideradas como se fossem regras para serem cumpridas sem desvalorização.

Terceiro conselho: é preciso saber que os problemas orais não se limitam aos dentes (cárie dentária), uma vez que podem existir doenças nas gengivas, na língua ou nas mucosas que carecem de diagnóstico e de tratamento especializado.

Quarto conselho: há que ter em atenção o eventual aparecimento de sintomas ou sinais como dores, feridas (úlceras), manchas, inchaços ou hemorragias que persistam mais de duas semanas. Nestas situações, impõe-se a antecipação da consulta com o médico dentista, a fim de diagnosticar a natureza do problema. Saliente-se que o tratamento do cancro oral, que é mais frequente do que se pensa, beneficia da precocidade do diagnóstico, à semelhança de qualquer outra doença oncológica. A este propósito, note-se que está cientificamente estabelecida a relação causa-efeito entre o fumo de tabaco e o aumento da probabilidade de surgir cancro oral. Fumar é, assim, um fator de risco.

Quinto conselho: é possível, também, evitar os traumatismos da boca através do uso de proteção durante algumas das atividades mais perigosas, nomeadamente motociclo, skate, trotinetas, etc.

Sexto conselho: como a fermentação do açúcar está na génese da cárie dentária há que tomar as devidas precauções em termos de autocuidados profiláticos. Escovar os dentes com uma pasta contendo flúor, pelo menos duas vezes por dia (depois do pequeno almoço e ao deitar), é absolutamente indispensável. Não se deve comer alimentos açucarados ou beber refrigerantes nos intervalos das refeições. Repare-se que um simples refrigerante tem 35 gramas de açúcar (o equivalente a cinco pacotes de açúcar).

Sétimo conselho: a aplicação tópica de fluor é altamente benéfica para prevenir a cárie dentária, uma vez que contraria a produção de acidez, impedindo a desmineralização e favorecendo a remineralização dentária. No entanto, a exposição ao excesso de fluor até aos 4 anos de idade pode provocar fluorose dentária (manchas descoloridas nos dentes).

Conclusão: A cárie dentária é uma doença crónica de elevada prevalência, apesar de poder ser evitada através de cuidados de higiene oral. A alegria das pessoas, traduzida pelo sorriso, assim o exige. Mas, também a saúde. Não é apenas uma questão de estética. Está, pela certa, dependente do acesso aos cuidados de medicina dentária. Sem desigualdades. Sem iniquidades. Se assim acontecer, constrói-se mais Democracia.

Francisco George
franciscogeorge@icloud.com

Saúde Oral (I)

Artigo de opinião publicado no “Diário de Notícias” 22 novembro 2023

Todos se lembram das imagens, antigamente difundidas pelos canais de TV, que mostravam pessoas a falar perante as câmaras e que, com chocante naturalidade, exibiam doenças orais, como a falta de dentes ou cárie em estado avançado. Era o resultado da inexistência de cuidados de higiene oral. Uma tristeza reveladora do atraso que Portugal viveu até 1974.

Nos últimos 50 anos o País mudou. É hoje diferente. Melhorou em todas as áreas da Saúde Pública, incluindo na Medicina Dentária. Um salto no bom sentido.

Recentemente, a Ordem dos Médicos Dentistas publicou um interessante volume intitulado “Livro Branco da Medicina Dentária” que não deve escapar à atenção dos legisladores e dos membros do próximo Governo que, como se sabe, será eleito a 10 de Março.

Mas, antes de tudo, há as lições do passado que traduzem as imensas debilidades da higiene oral que não podem ser ignoradas.

Precise-se.

Se bem que os primeiros anúncios de publicidade a pastas dentífricas tenham sido divulgados, em Portugal, desde 1865, durante o reinado de Luís de Bragança, só algumas famílias da elite aristocrática de Lisboa tinham acesso à higiene oral. Na altura, Portugal contava apenas 3,8 milhões de habitantes (segundo o Censo do ano anterior). Era um país dominado pela ruralidade, pela imensa pobreza e pelo analfabetismo. Estima-se que 80% dos residentes não sabiam ler, escrever nem contar. Tamanho analfabetismo, associado à iliteracia para a saúde e ao atraso socioeconómico da época, eram determinantes que marcavam negativamente a Saúde Pública e que explicavam a curta esperança de vida à nascença que não ultrapassava 31 anos (1864).

É verdade que, então, a saúde oral constituía um problema de saúde pública. Mas, comparada com os efeitos das constantes epidemias de tifo, cólera, tuberculose, varíola, febre amarela, foi relegada para uma escala inferior de prioridades. Era essa a perceção generalizada.

Perante a pesada herança, foi preciso impulsionar a democratização do acesso a cuidados de saúde oral. É neste âmbito que surge o desenvolvimento da Medicina Dentária. Ainda bem que assim aconteceu.

Interessa conhecer a natureza da cárie dentária e a forma de a prevenir. Todos sabem que as crianças, em regra, nascem sem dentes (o que é excelente para o aleitamento materno), mas depois, a partir dos 6 meses, começam a irromper os dentes de leite. Uma festa na família!  Mas, é preciso saber que estes dentes de leite (no total são 20), apesar de provisórios, têm que ser bem cuidados na perspetiva da prevenção da cárie. Em geral, aos 6 anos começam a nascer os primeiros dentes definitivos que sucessivamente substituem os de leite. Os molares e incisivos são os primeiros a nascer. A queda do primeiro dente de leite é outra festa! No final, a dentição completa conta com 32 dentes, incluindo 4 cisos.

Ora, a cárie dentária resulta da fermentação do açúcar por bactérias cariogénicas que se encontram habitualmente na região dorsal da língua. Esse processo de fermentação dá origem a substância ácidas que (como todos os ácidos) destrói os dentes, tanto os de leite como os definitivos.

Primeiro conselho: a mãe ou o pai terão que usar pasta dentífrica infantil e uma escova macia para os dentes das suas crianças, sem deixar de lavar o dorso da língua. Hábito que, depois, já autonomamente, não será interrompido.

(continua na quarta-feira)

Francisco George
franciscogeorge@icloud.com

STRESS

Artigo de opinião publicado no “Diário de Notícias” 15 novembro 2023

O médico da Universidade de Montreal, Hans Selye (1907-1982), foi o primeiro cientista a interessar-se pelo mecanismo fisiológico originado pela exposição ao stress. Há cerca de 70 anos atrás, explicou os efeitos que podem assumir múltiplas formas reativas quer na mente quer no corpo das pessoas perante o stress. Esclareceu, então, que as diversas reações eram devidas à secreção de adrenalina pelas glândulas suprarrenais que constitui a primeira resposta por parte do organismo. Realce-se que o stress nem sempre representa uma ameaça à saúde. No entanto, muitas vezes, impõe aconselhamento psicológico especializado.

Ora, as descrições científicas de Hans Selye podem, agora, ser analisadas, tendo em consideração os avanços científicos alcançados, tanta nas áreas da emoção como da fisiopatologia de doenças, comprovadamente, provocadas pelo stress.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) considera que o stress é uma das preocupantes epidemias do século XXI.

A este propósito, a Associação Académica da Universidade da Beira Interior promoveu, recentemente, um oportuno debate destinado a estudantes de Medicina sobre o tema que foi conduzido pelo psicólogo Paulo Vitória. Foi neste ambiente que foram referidos como causas principais de stress os assuntos relacionados com a família (como a doença ou morte de um familiar próximo) ou com problemas financeiros (causados pelo desemprego, por exemplo) ou, ainda, com a insatisfação no trabalho (muitas vezes associada ao excesso de responsabilidade).

Naturalmente, os efeitos na saúde de cada pessoa exposta ao stress dependem de múltiplos fatores, nomeadamente do grau de intensidade, da duração do período de exposição e da apreciação subjetiva da gravidade de cada situação.

Saber gerir o stress do dia a dia é essencial, em especial no plano da preservação da saúde.

As consequências patológicas causadas pelo stress foram apresentadas segundo um modelo inovador que distingue quatro grupos: 1 Efeitos fisiológicos diretos; 2 Alterações dos comportamentos determinantes da saúde; 3 Recursos psicossociais; 4 Cuidados de saúde.

Precise-se cada um dos grupos mencionados.

Na classe 1 integram-se os seguintes efeitos: elevação das gorduras no sangue; pressão arterial alta; diminuição da imunidade e aumento da atividade hormonal.

No que se refere ao grupo 2 (estilos de vida) apontam-se: o aumento do fumo do tabaco e do consumo de bebidas alcoólicas; problemas nutricionais; dificuldade em dormir; aumento do consumo de substâncias psicotrópicas e dieta desequilibrada e menor atividade física.

No grupo 3, relacionado com as questões psicossociais, citam-se as consequências do stress traduzidas pela sensação de falta de apoio social; na redução do otimismo: na ameaça à autoestima e menor autodomínio.

Já no grupo 4, sobre os cuidados de saúde, enumeram-se: a diminuição da aderência aos tratamentos; aumento do tempo antes da procura de cuidados; manifestações sintomáticas com perfil pouco claro e diminuição da probabilidade na procura de cuidados.

Nota final: a expressão síndrome de burnout está associada ao trabalho, em resultado da submissão a intenso e repetido stress que está na origem da sensação das capacidades físicas e psíquicas impedirem o cumprimento das responsabilidades profissionais. Situação que, em regra,  é provocada por tarefas e carga horária excessivas.

Francisco George
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Diabetes (capítulo III)

Artigo de opinião publicado no “Diário de Notícias” 8 novembro 2023

Continuam, hoje, alguns esclarecimentos sobre a diabetes mellitus. Já se referiu que a diabetes tipo 2 tem uma expressão familiar e que está relacionada com a falha da insulina que deixa de ser segregada com normalidade pelas células dos ilhéus do pâncreas. Ora, como essa falta de insulina é relativa (isto é, não é total), importa tudo tentar para que seja “poupada”, em particular pelas pessoas que têm mais probabilidade de terem diabetes, nomeadamente as que têm familiares com diabetes (pais, tios, avós). Essa poupança deverá ter como princípio básico a redução do açúcar da alimentação, a fim da sua presença no sangue não estimular a produção de mais insulina. Sublinhe-se que os teores altos de açúcar no sangue (hiperglicemia) vão influenciar a estimulação de mais produção de insulina na perspetiva de baixar os níveis de glicémia.

Repare-se na fórmula fisiológica do metabolismo dos açúcares (hidratos de carbono): quanto menos açúcar existir no sangue, menos será a insulina necessária; mais açúcar no sangue exigirá mais insulina.

A obesidade é igualmente um fator de risco. É aqui que contam os comportamentos e estilos de vida. Há que ter em atenção a quantidade e qualidade dos alimentos. O excesso de calorias ingeridas prejudica a saúde. Os primeiros sinais são o aumento de peso refletido no índice de massa corporal que traduz a corpulência (relação da estatura e peso). É preciso evitar chegar à obesidade. Para isso, há que planear as refeições com menos calorias e fazer mais atividade física.

Apesar de nem sempre ser fácil ler os rótulos com as indicações da composição dos alimentos, há que ter em atenção as quantidades de calorias e de açúcar indicadas nas respetivas embalagens. A título de exemplo, realce-se que um simples refrigerante de 33 cl da marca americana mais conhecida de cola original, corresponde a 7 pacotes de açúcar ingeridos com uma só bebida (admitido que cada pacote tem 5 gramas).

Quais são os primeiros sintomas ou sinais que sugerem o começo da diabetes?

Em regra, a diabetes tipo 2 surge em pessoa adulta (ao contrário do tipo 1 que é tida, principalmente, como juvenil). O quadro clínico inicial traduz-se pela frequência em urinar e em sensação de sede. É habitual começar com perda brusca de peso.

Nestas circunstâncias há que procurar o médico de família para confirmar o diagnóstico. As análises laboratoriais ao sangue e à urina irão exibir níveis altos da glicémia e a presença de açúcar na urina (glicosúria).

A seguir terá que ser a própria pessoa com diabetes a cumprir a terapêutica seguindo os conselhos e recomendações do médico e do enfermeiro para equilibrar os níveis de glicémia em função da alimentação e do exercício físico.

Conclusão:

Eis as principais lições para preservar a saúde, incluindo no plano da moralidade social: é preciso observar comportamentos saudáveis na vida rotineira do dia a dia. O desígnio é fazer com que a vida de cada e de todas as pessoas seja menos curta. Este é um objetivo atingível para quem gosta de viver. A mudança é sempre praticável. Para tal, há que acreditar que é possível evitar a diabetes. Neste sentido, a receita mágica é comer com equilíbrio e fazer exercício físico. Por exemplo, preferir a mobilidade urbana recorrendo à bicicleta que, também, reduz a emissão de gases poluentes que é um imperativo moral para todos.

Francisco George
franciscogeorge@icloud.com