150 anos da Cruz Vermelha Portuguesa em Braga

Conde de Bertiandos
Conde de Bertiandos

A Cruz Vermelha Portuguesa em Braga. Um exemplo.

O Movimento da Cruz Vermelha nasceu em 1859. Era o tempo de Giuseppe Verdi, mais precisamente o ano em que produziu a famosa ópera “Um Baile de Máscaras”, coincidente, no plano temporal, com as lutas pela Independência que opuseram, em sangrentos confrontos, o Exército Aliado de Victor Emanuel II e as tropas austríacas do Imperador Francisco José I.

Foi em 24 Junho, desse ano, que a Batalha de Solferino terminaria, ao final do dia, com milhares de feridos prostrados nos campos ensanguentados. Um horror. O suíço Henry Dunant que, por mero acaso, presenciara a desumanidade do conflito, foi, por sua iniciativa, recrutar voluntários nas aldeias vizinhas para socorrerem feridos, sem distinção de vencedores ou vencidos. Socorreu todos sem discriminar ninguém.

Assim, com as iniciativas conduzidas por Dunant, irromperiam os célebres 7 princípios fundamentais do Movimento Internacional da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho que, dogmaticamente aceites, seriam ratificados por todos os Estados aderentes às Convenções de Genebra, nomeadamente: Humanidade, Imparcialidade, Independência, Neutralidade, Voluntariado, Unidade e Universalidade.

Princípios que iriam alicerçar a missão supranacional da Cruz Vermelha.

Ainda hoje assim sucede em Portugal. Por isso, a CVP, expressa no seu Regime Jurídico a obediência a tais Princípios e estabelece a sua subordinação às convenções internacionais de Genebra e a sua natureza “humanitária não-Governamental de carácter voluntário e de interesse público”, bem como a sua qualidade jurídica de “pessoa colectiva de direito privado e de utilidade pública administrativa, sem fins lucrativos” (artigos 2º e 3º).

Neste quadro, ao longo dos 155 anos de existência, sucederam-se missões humanitárias, quer a nível nacional quer internacional, sempre guiadas pelos valores centrados na redução do sofrimento humano.

A articulação com o Ministério da Defesa Nacional é histórica. Remonta ao seu fundador, José António Marques, que era médico militar ao serviço das Forças Armadas e que representou o Rei Luís de Bragança, em Genebra, na redação do texto inicial que viria a ser aprovado em 1864. A ratificação, neste texto, do princípio da criação, em cada país, de uma sociedade humanitária que cumprisse na sua área de intervenção a aspiração do grupo fundador da Cruz Vermelha, determinou a constituição em Lisboa, no ano seguinte, por iniciativa de José António Marques, da Cruz Vermelha Portuguesa.

Desde essa altura, a articulação ao então Ministério da Guerra era explicada pela génese da Cruz Vermelha em Solferino, mas, igualmente, devida ao reconhecimento da importância da regulação de conflitos armados pelas diversas convenções de Genebra e seus protocolos adicionais. Considerava-se que a Cruz Vermelha estaria para a Guerra como a ONU viria a estar para a Paz.

É neste ambiente que, ainda durante o reinado de Luis de Bragança, o Conde de Bertiandos, Gonçalo Pereira da Silva de Sousa e Menezes (1851-1929) fundou a Delegação de Braga da CVP em 1870. O Conde adquirira assinalável brilho devido às múltiplas iniciativas de filantropia que desenvolvera. Aristocrata próximo da Corte, era no Minho que focava a sua visão Humanitária.

Em Portugal, as relações de cooperação entre a CVP e o Ministério da Defesa Nacional foram exemplares nas Frentes da I Grande Guerra, na Flandres e em África, onde os hospitais de campanha foram erguidos sob a bandeira da Cruz Vermelha que assumira a responsabilidade de promover cuidados médicos aos soldados. Mesmo antes do Armistício, durante a Pandemia “Pneumónica” de 1918 foram insubstituíveis os trabalhos que a CVP desenvolveu em apoio das populações, incluindo em toda a Província Minhota.

Em 1919 esses serviços foram reconhecidos pela atribuição à CVP do grau de Grande Oficial da Ordem Militar da Torre e Espada.

Ao longo dos anos, a missão Humanitária da CVP viria a consolidar-se, incluindo, naturalmente, em Braga. Para tal, contribuíram as doações provenientes de manifestações de altruísmo, de mecenato, de responsabilidade social de empresas, bem como de legados recebidos e donativos generosos, para além dos resultados de prestações organizadas no âmbito da acção social.

O inquestionável dinamismo da CVP Bracarense justifica antecipar Esperança. Era essa, também, a mensagem de Verdi em “Um Baile de Máscaras”, apesar da atmosfera revolucionária da época, a sua Ópera glorifica a Esperança como certeza de acontecer.

Assim aconteceu, acontece e acontecerá em Braga. Um exemplo para a rede da CVP.

Francisco George
Presidente da Cruz Vermelha Portuguesa