O Universo de Crentes e Agnósticos

Artigo de opinião publicado no “Diário de Notícias” 20 julho 2022

Um ensaio, escrito por Paulo Crawford, intitulado “O Universo – do Big Bang aos Buracos Negros”, publicado, em Maio de 2022, pela Fundação Francisco Manuel dos Santos, é muito interessante. É uma obra estimulante para todos os que se interessam pelos segredos do Universo, quer para crentes em Deus quer para agnósticos.

A grande questão é compreender a origem do próprio Universo. O seu princípio. A sua composição. A sua estabilidade. A expansão da matéria. A energia. O tempo de existência prevista para o Sol ou para cada um dos seus planetas (como a Terra) e muitas outras respostas a perguntas formuladas com indiscutível inteligência.

Antes de tudo, duas questões principais:

O Universo terá sempre existido? Ou, terá havido um momento correspondente ao seu início?

Com os primeiros telescópios, terrestres, apesar de munidos de poderosas lentes que permitiram observar o Sistema Solar, não era possível encontrar respostas seguras. São instrumentos quase “cegos” em comparação com o alcance conseguido pelos telescópios montados em estações no espaço, lançados por potentes foguetões.

Ora bem, em resposta às duas questões acima colocadas, sublinha-se que todos os cientistas estão de acordo que o começo, comummente designado como BIG BANG, ocorreu há cerca de 14 mil milhões de anos.[1] Foi o momento que, pela primeira vez, não só criou matéria (estrelas, planetas, galáxias…) como também os conceitos de tempo e de espaço. Antes, nada havia. Absolutamente nada. Depois, percebeu-se que os corpos celestes e as galáxias tinham dinamismo acentuado.

Assim comprovam os estudos apoiados pelas observações conseguidas pelos telescópios espaciais, primeiro o Hubble (lançado em 1990) e, agora, o supertelescópio James Webb.[2]

O inovador Webb, dotado de ferramentas mais sofisticadas que o Hubble, começou a produzir imagens, tal como previsto a partir de Julho, tão nítidas como surpreendentes, ao fim de 20 anos de desenvolvimento de um projeto, ímpar, que juntou especialistas norte-americanos da NASA, também do Canadá (CSA) e da Agência Espacial Europeia (ESA), incluindo de Portugal.

Nesta parceria, destacam-se os contributos da astrónoma portuguesa Catarina Alves de Oliveira que considerou o telescópio James Webb “100 vezes mais sensível do que o Hubble”.

Essas novas imagens, verdadeiramente revolucionárias, retratam fenómenos captados a distâncias imensas, designadamente a muitos anos-luz, que possibilitam extrair novos dados e conhecimentos científicos, bem como demonstrar eventos até hoje ignorados: exoplanetas em órbita em torno de “outro Sol”, morte de estrelas, presença de água, movimentos cósmicos, dinamismo de galáxias, corpos celestes, energia negra, etc.

Por outro lado, se bem que sem unanimidade da comunidade científica, há especialistas em astrofísica que admitem a criação de novos universos a partir do nada.

Moral da história: Antes do Big Bang nada havia.

Com o Big Bang, há 13 770 000 000 anos, surgiu a noção de tempo e de espaço.

O Universo é dinâmico. Expande-se a diferentes velocidades ao longo do tempo.

Os crentes atribuem a criação do Universo a Deus.

Os agnósticos admitem que o Universo foi criado a partir do nada.

Francisco George
franciscogeorge@icloud.com


[1] Mais precisamente há 13,7 mil milhões de anos.

[2] Sem ignorar os contributos da missão espacial não tripulada WMAP que esteve operacional entre 2001-2010.