Guiné-Bissau

Artigo de opinião publicado no “Diário de Notícias” 18 janeiro 2023

Muitos portugueses que estiveram na Guiné-Bissau, antes da Independência, gostariam de lá voltar na perspetiva de recordarem os tempos da juventude aí passados. Quase todos como soldados. Muito provavelmente, o interesse em regressar às matas guineenses acontece com mais frequência quando comparado com circunstâncias análogas de outras antigas colónias de África. Assim sendo, como justificar este desejo em remexer a memória por quem ali tanto sofreu a combater os guerrilheiros do PAIGC?

Antes de mais, pelo reconhecimento que a guerra era injusta e, como tal, inglória. Mas, também, porque a Guiné é muitíssimo especial.

País tropical composto por uma componente continental e por belíssimas ilhas atlânticas, é habitado por população de diversas etnias e religiões, mas irmanada pelo profundo sentimento nacional, cimentado de forma expressiva, no tempo de Amílcar Cabral ao conduzir a Luta de Libertação. Fulas, Mandingas, Balantas, Papeis ou Felupes, muitos deles muçulmanos, outros animistas e alguns cristãos, formam, desde a proclamação de 1973, a República da Guiné-Bissau.

Ao contrário do Brasil, de Angola ou de Moçambique, os portugueses não emigravam para a Guiné. Historicamente, não se registaram fluxos migratórios a caminho de Bissau. Em rigor, a Guiné constituiu um modelo de colonialismo, mas sem colonização. A presença de Portugal ao longo dos séculos traduziu-se pela exploração das suas riquezas naturais, em termos de comércio, sem ignorar a marcante traficância de escravos que partiam de Cacheu para Cabo Verde e daqui para as Américas e Europa.

Então, como explicar a genuína vontade que tantos manifestam em “matar saudades” e ir à Guiné?

Antes de tudo, importa sublinhar a gentileza natural da população guineense, associada à beleza ímpar da paisagem que mistura diferentes tonalidades de verde que compõem a imensa flora guineense. As elegantes palmeiras que sobressaem nas savanas exóticas, por vezes animadas pela imagem de um jovem trepador a extrair o precioso shabéu (ou coconote ou dendém), destinado ao fabrico de óleo alimentar.

A riqueza e diversidade da alimentação, sobretudo pescada nos rios, a começar pelos camarões apanhados pelas redes que as mulheres colocam para aproveitar as marés. Também as ostras gigantes de Quinhamel abertas na grelha em cima da brasa e depois saboreadas juntamente com sumo de lima e malagueta são imperdíveis.

As frutas estão abundantemente representadas pelos saborosos mangos da Índia, toranjas gigantes e cajus (consumidos quer frescos em sumo quer sob a forma de castanha assada). Amendoins torrados completam escolhas exigentes.

Um episódio, tão pitoresco como inesquecível, é o aparecimento repentino, de um dia para outro, de milhões de grilos que saltam e cantam durante uma semana por todo o lado. Entram nas casas, incluindo nos quartos de dormir… Alguns dias depois desaparecem. Um mistério da natureza.

Minienciclopédia:

Na língua portuguesa a origem da expressão GUINÉ significa “terras com gente de pele escura”. Por isso, a nível mundial, compreende-se a existência de quatro guinés:

Guiné-Bissau; Guiné-Conacri; Guiné Equatorial e Papua Guiné.

Francisco George
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