O Mistério da Joana

Artigo de opinião publicado no “Diário de Notícias” 1 fevereiro 2023

(conto baseado em caso verídico, mas com nomes alterados)

Era uma vez, há 40 anos atrás, Joana, ainda jovem, antes de completar 20 anos de idade, desapareceu subitamente de casa de seus pais, em Lisboa. Ninguém sabia dela. Inesperadamente, sumiu-se. A família, preocupada, procurou o apoio da PSP que implementou o protocolo previsto para situações semelhantes.

Joana não tinha tido qualquer contrariedade. Era saudável e feliz. Tudo decorria normalmente. Se bem que residisse em casa dos pais, Joana vivia alegremente, de forma desafogada e radiante. As rendas mensais que recebia eram suficientes para levar uma vida pomposa e sem dificuldades. Seu pai, Afonso Ávila, era descendente de uma antiga família aristocrática e, por isso, gostava de ser tratado pelo título de Conde. Bem relacionado no plano social, Afonso tinha muitos conhecimentos. Solicitou ajuda a pessoas influentes que tudo fizeram para encontrar sinais de Joana. Cada chamada de telefone era uma esperança. O toque da campainha da rua era um sobressalto. Seria a filha?

Os pais passavam as semanas e os sucessivos meses sempre muito ansiosos. Era uma angústia permanente. Sentiam-se vencidos pela falta de resultados das múltiplas pesquisas. Nada. Nada sabiam.  Sentiam-se derrotados pela ausência de notícias da filh. A tristeza era contínua.

Um certo dia Afonso recebe um telefonema de sua irmã Rita:

– Oh Afonso, o meu sobrinho Pedro convidou-me a mim e ao meu marido para irmos passar umas férias tropicais à casa dele em Bissau. Aceitámos imediatamente. Pedi ao Pedro para, entretanto, começar a apurar se havia um mago com uma “bola de cristal” para tentar encontrar a nossa Joana. Que achas?

– Olha, minha querida irmã, estamos por tudo…

– Oh Afonso, fica confiante porque o meu sobrinho Pedro é daqueles que tudo fará para irmos visitar o melhor dos melhores.

Em Dezembro de 1982, Rita Ávila e o marido, Alberto, aterram no aeroporto de Bissau. Recebidos por Pedro, vão a seguir descansar para a sua vivenda junto ao Grande Hotel.

A prioridade para Rita era procurar um Homem Grande, mesmo que fosse longe. Assim, aconteceu. Pedro soube de um célebre Mouro que residia no Leste e que era tido como o mais famoso. Atendia peregrinos de toda a África, incluindo governantes.

Pedro resolve ir a caminho de Pitche, passando por Bafatá e Gabu. Uma aventura. Uma vez aí chegados, Pedro, sua tia Rita e o tio Aberto solicitam uma audiência. Já muito idoso, mas lúcido, o Mouro recebeu a família portuguesa rodeado por imponente corte de ajudantes, todos homens grandes vestidos com bubus muçulmanos, coloridos e rendilhados. Rita explicou que a sua sobrinha Joana tinha desaparecido de Lisboa havia mais de um ano e que ninguém sabia o que acontecera. Logo depois o Mouro inicia aturada pesquisa a folhear livros e mapas. Ao fim de meia-hora de silêncio absoluto exclama:

–  Encontrei-a, apontando o dedo para um mapa, está em Paris!

Rita, acreditando, agradece:

– Obrigado!
– Estejam tranquilos porque ela vai aparecer dentro de pouco tempo!
– Quanto devemos pela consulta? Pergunta Pedro.
– Nada. É uma honra receber portugueses, respondeu prontamente.

Pedro dirige-se a seguir para o automóvel que ficara perto e encontra uma cabra presa ao carro (oferta do Mouro em reconhecimento pela visita).

Epílogo:

Joana voltou a Lisboa no mês seguinte. Tinha um namorado secreto em Paris!

Francisco George
franciscogeorge@icloud.com