Escola em Crise?

Artigo de opinião publicado no “Diário de Notícias” 26 abril 2023

(conto baseado em eventos verídicos)

Era uma vez uma jovem, chamada Emília, de 12 anos de idade, que frequentava o 7º ano do 3º ciclo do ensino básico, em 2019/2020, na Escola oficial de Vila Real, bem perto da residência de seus pais.

Emília era muito feliz na Escola. Gostava das instalações e do ambiente. Tanto os professores como o pessoal auxiliar tinham elevado prestígio junto da população e, naturalmente, também dos alunos. As aulas eram animadas e a educação física era praticada em ginásio devidamente equipado. A organização escolar era regida por regras democráticas que todos apreciavam e aceitavam com confiança.

Emília, desde as primeiras aulas em Outubro constrói uma intensa amizade com a sua colega de turma Tânia. Ambas tinham a mesma idade e gostos convergentes. Conversavam constantemente durante os recreios, ao almoço e depois, já em casa, não resistiam em trocar mensagens de telemóvel. Muitas vezes passavam os fins de semana, alternadamente, ora em casa de uma, ora de outra. Sempre inseparáveis.

Eis senão quando, muito longe, na China, uma nova doença infeciosa emergira. Não demorou muito tempo a saltar a famosa Grande Muralha e a provocar epidemias em todos os continentes. Era uma infeção respiratória que podia evoluir gravemente. A pandemia gerou medo em todos os países do mundo, incluindo em Portugal.

Por esta razão, o Presidente da República e o Primeiro Ministro apressaram-se a decretar um conjunto de medidas de exceção no âmbito do Estado de Emergência.

As escolas foram encerradas, tal como os estabelecimentos de Atividades de Tempos Livres (ATL). O ensino normal foi interrompido.

Emília e Tânia prosseguiram a amizade entre elas, mesmo inevitavelmente afastadas.

Como previsto passaram de ano para o 8º. Agora, as duas frequentam o 9º ano do 3º Ciclo. Por esta razão, o ensino básico aproxima-se do final. Uma e outra têm boas notas, apesar das frequentes interrupções, primeiro devidas à pandemia e depois aos problemas resultantes das lutas sindicais dos professores, agravadas por diversas carências inexplicáveis.

Emília e Tânia irão, assim, terminar o 9º ano.  Seguir-se-á, portanto, o Ensino Secundário a fim de frequentarem os 10º, 11º e 12º anos, antes da Universidade.

Porém, inesperadamente, são confrontadas com uma situação que irá separa-las daí em diante. Os pais de Tânia resolveram inscrever a filha em colégio privado para a afastar da crise permanente das falhas pedagógicas, enquanto que, por falta de meios, os pais da Emília não têm a mesma possibilidade. Os rendimentos da famía de Tânia permitem essa mudança para a escola privada, mas os recursos dos pais de Emília não são suficientes para a transferir para o ensino privado.

Moral da história em 5 pontos à consideração de governantes e deputados:

1. As políticas sociais conduzidas pelo Governo não asseguram, comprovadamente, a qualidade do ensino público básico e secundário.

2. É urgente reconhecer que a paz social assume importância vital em toda a comunidade escolar e, por isso, é inaceitável prolongar as negociações com sindicatos.

3. O rendimento familiar não deve ser gerador de desigualdades entre o ensino oficial e privado. As oportunidades de aprendizagem têm que estar ao alcance de todos.

4. É inadiável o desenvolvimento de políticas para robustecer o Estado Social.

5. Antes de tudo, há que reduzir iniquidades.

Francisco George
franciscogeorge@icloud.com