A Era dos Antibióticos (IV)

Artigo de opinião publicado no “Diário de Notícias” 19 julho 2023

Em continuação dos três artigos já escritos sobre o mesmo assunto, acentuam-se hoje os aspetos essenciais de proteção dos antibióticos e de outros medicamentos antimicrobianos, que estão agora em risco de perderem eficácia.

Antes de tudo, sublinhe-se que a ocorrência de resistência não é exclusiva de bactérias em relação aos antibióticos. Igualmente, os vírus, tal como os protozoários ou os fungos podem desenvolver resistências, respetivamente, aos antivirais, ou a antipalúdicos (no caso do paludismo) ou a antifúngicos. Por isso, é mais correto falar de resistência dos agentes microbianos patogénicos aos ANTIMICROBIANOS, uma vez a expressão antibiótico refere-se só a bactérias (antibacteriano).

Ora, os medicamentos antimicrobianos são utilizados no tratamento de doenças, tanto provocadas por bactérias, por vírus, protozoários ou por fungos.

A nível internacional, este problema da RESISTÊNCIA é designado pela sigla AMR que em inglês significa antimicrobial resistance.

Remonta a 2008 a confirmação de casos de resistência do vírus da gripe ao antiviral oseltamivir. Por outro lado, também desde há muito, foram identificados protozoários, agentes do paludismo, resistentes a antipalúdicos como a cloroquina, por exemplo. Reconhece-se, do mesmo modo, um problema com fungos patogénicos que provocam doenças (como as candidíases) que apresentam resistências aos medicamentos clássicos.

A atual comprovação que as taxas dos micróbios resistentes aos antimicrobianos são cada vez mais elevadas é motivo de grande preocupação.

Estão em causa os medicamentos para a prevenção e tratamento de doenças de natureza bacteriana, ou viral, ou devidas a protozoários ou, também a fungos. A apreensão a nível nacional e global é justificada, visto que são fenómenos que constituem desafios para a Humanidade.

Naturalmente, a aplicação de medidas preventivas das Resistências aos Antimicrobianos (RAM) impõe prévio conhecimento da sua génese. Ver-se-á que a luta contra as resistências envolve cidadãos e governantes, bem como todos os setores relacionados com a Saúde Humana, Animal, com a Agricultura e o Ambiente. Implica, pois, a abordagem ONE HEALTH.  

Precise-se.

A utilização inapropriada de antimicrobianos em medicina ou veterinária ou, ainda, na agricultura favorece, comprovadamente, o aparecimento de resistências devido a mecanismos de seleção, já mencionados. São exemplos de indevida utilização: o consumo excessivo (por tudo e por nada tomar um antibiótico…); o não cumprimento da prescrição médica (acabar a toma antes de tempo); o uso de antibióticos para infeções virais, quer de seres humanos ou animais…

O panorama na pecuária e agricultura não é tranquilo porque muitos dos agentes microbianos patogénicos são comuns a seres humanos e animais. Se esses micróbios forem resistentes, assim continuarão sempre a ser.

Repita-se. Se o micróbio patogénico adquirir resistência, as futuras gerações do mesmo micróbio serão resistentes aos respetivos antimicrobianos quer em seres humanos quer animais. A sua propagação é pandémica.

É urgente mudar de comportamentos no que respeita ao consumo de antimicrobianos. Mesmo admitindo que outros antimicrobianos inovadores sejam produzidos pela Indústria Farmacêutica, se os comportamentos não mudarem as resistências continuarão depois a ocorrer novamente.

Continua no capítulo V  

Francisco George
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