STRESS

Artigo de opinião publicado no “Diário de Notícias” 15 novembro 2023

O médico da Universidade de Montreal, Hans Selye (1907-1982), foi o primeiro cientista a interessar-se pelo mecanismo fisiológico originado pela exposição ao stress. Há cerca de 70 anos atrás, explicou os efeitos que podem assumir múltiplas formas reativas quer na mente quer no corpo das pessoas perante o stress. Esclareceu, então, que as diversas reações eram devidas à secreção de adrenalina pelas glândulas suprarrenais que constitui a primeira resposta por parte do organismo. Realce-se que o stress nem sempre representa uma ameaça à saúde. No entanto, muitas vezes, impõe aconselhamento psicológico especializado.

Ora, as descrições científicas de Hans Selye podem, agora, ser analisadas, tendo em consideração os avanços científicos alcançados, tanta nas áreas da emoção como da fisiopatologia de doenças, comprovadamente, provocadas pelo stress.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) considera que o stress é uma das preocupantes epidemias do século XXI.

A este propósito, a Associação Académica da Universidade da Beira Interior promoveu, recentemente, um oportuno debate destinado a estudantes de Medicina sobre o tema que foi conduzido pelo psicólogo Paulo Vitória. Foi neste ambiente que foram referidos como causas principais de stress os assuntos relacionados com a família (como a doença ou morte de um familiar próximo) ou com problemas financeiros (causados pelo desemprego, por exemplo) ou, ainda, com a insatisfação no trabalho (muitas vezes associada ao excesso de responsabilidade).

Naturalmente, os efeitos na saúde de cada pessoa exposta ao stress dependem de múltiplos fatores, nomeadamente do grau de intensidade, da duração do período de exposição e da apreciação subjetiva da gravidade de cada situação.

Saber gerir o stress do dia a dia é essencial, em especial no plano da preservação da saúde.

As consequências patológicas causadas pelo stress foram apresentadas segundo um modelo inovador que distingue quatro grupos: 1 Efeitos fisiológicos diretos; 2 Alterações dos comportamentos determinantes da saúde; 3 Recursos psicossociais; 4 Cuidados de saúde.

Precise-se cada um dos grupos mencionados.

Na classe 1 integram-se os seguintes efeitos: elevação das gorduras no sangue; pressão arterial alta; diminuição da imunidade e aumento da atividade hormonal.

No que se refere ao grupo 2 (estilos de vida) apontam-se: o aumento do fumo do tabaco e do consumo de bebidas alcoólicas; problemas nutricionais; dificuldade em dormir; aumento do consumo de substâncias psicotrópicas e dieta desequilibrada e menor atividade física.

No grupo 3, relacionado com as questões psicossociais, citam-se as consequências do stress traduzidas pela sensação de falta de apoio social; na redução do otimismo: na ameaça à autoestima e menor autodomínio.

Já no grupo 4, sobre os cuidados de saúde, enumeram-se: a diminuição da aderência aos tratamentos; aumento do tempo antes da procura de cuidados; manifestações sintomáticas com perfil pouco claro e diminuição da probabilidade na procura de cuidados.

Nota final: a expressão síndrome de burnout está associada ao trabalho, em resultado da submissão a intenso e repetido stress que está na origem da sensação das capacidades físicas e psíquicas impedirem o cumprimento das responsabilidades profissionais. Situação que, em regra,  é provocada por tarefas e carga horária excessivas.

Francisco George
franciscogeorge@icloud.com