Saúde Oral (I)

Artigo de opinião publicado no “Diário de Notícias” 22 novembro 2023

Todos se lembram das imagens, antigamente difundidas pelos canais de TV, que mostravam pessoas a falar perante as câmaras e que, com chocante naturalidade, exibiam doenças orais, como a falta de dentes ou cárie em estado avançado. Era o resultado da inexistência de cuidados de higiene oral. Uma tristeza reveladora do atraso que Portugal viveu até 1974.

Nos últimos 50 anos o País mudou. É hoje diferente. Melhorou em todas as áreas da Saúde Pública, incluindo na Medicina Dentária. Um salto no bom sentido.

Recentemente, a Ordem dos Médicos Dentistas publicou um interessante volume intitulado “Livro Branco da Medicina Dentária” que não deve escapar à atenção dos legisladores e dos membros do próximo Governo que, como se sabe, será eleito a 10 de Março.

Mas, antes de tudo, há as lições do passado que traduzem as imensas debilidades da higiene oral que não podem ser ignoradas.

Precise-se.

Se bem que os primeiros anúncios de publicidade a pastas dentífricas tenham sido divulgados, em Portugal, desde 1865, durante o reinado de Luís de Bragança, só algumas famílias da elite aristocrática de Lisboa tinham acesso à higiene oral. Na altura, Portugal contava apenas 3,8 milhões de habitantes (segundo o Censo do ano anterior). Era um país dominado pela ruralidade, pela imensa pobreza e pelo analfabetismo. Estima-se que 80% dos residentes não sabiam ler, escrever nem contar. Tamanho analfabetismo, associado à iliteracia para a saúde e ao atraso socioeconómico da época, eram determinantes que marcavam negativamente a Saúde Pública e que explicavam a curta esperança de vida à nascença que não ultrapassava 31 anos (1864).

É verdade que, então, a saúde oral constituía um problema de saúde pública. Mas, comparada com os efeitos das constantes epidemias de tifo, cólera, tuberculose, varíola, febre amarela, foi relegada para uma escala inferior de prioridades. Era essa a perceção generalizada.

Perante a pesada herança, foi preciso impulsionar a democratização do acesso a cuidados de saúde oral. É neste âmbito que surge o desenvolvimento da Medicina Dentária. Ainda bem que assim aconteceu.

Interessa conhecer a natureza da cárie dentária e a forma de a prevenir. Todos sabem que as crianças, em regra, nascem sem dentes (o que é excelente para o aleitamento materno), mas depois, a partir dos 6 meses, começam a irromper os dentes de leite. Uma festa na família!  Mas, é preciso saber que estes dentes de leite (no total são 20), apesar de provisórios, têm que ser bem cuidados na perspetiva da prevenção da cárie. Em geral, aos 6 anos começam a nascer os primeiros dentes definitivos que sucessivamente substituem os de leite. Os molares e incisivos são os primeiros a nascer. A queda do primeiro dente de leite é outra festa! No final, a dentição completa conta com 32 dentes, incluindo 4 cisos.

Ora, a cárie dentária resulta da fermentação do açúcar por bactérias cariogénicas que se encontram habitualmente na região dorsal da língua. Esse processo de fermentação dá origem a substância ácidas que (como todos os ácidos) destrói os dentes, tanto os de leite como os definitivos.

Primeiro conselho: a mãe ou o pai terão que usar pasta dentífrica infantil e uma escova macia para os dentes das suas crianças, sem deixar de lavar o dorso da língua. Hábito que, depois, já autonomamente, não será interrompido.

(continua na quarta-feira)

Francisco George
franciscogeorge@icloud.com