Opinião Pessoal (III)

Artigo de opinião publicado no “Diário de Notícias” 27 dezembro 2023

Ainda sobre a crise climática, relembro que o aquecimento global atinge diferentes áreas. Proponho focar o tema em Portugal e nas regiões do Atlântico e Mediterrâneo.

Realço que os especialistas admitem que os fenómenos climáticos extremos serão mais frequentes, mais intensos e mais graves.

Repetir-se-ão ondas de calor com efeitos críticos, visto que são caracterizadas por temperaturas elevadas acima do esperado para determinada semana, de duração prolongada e com noites tropicais (20 °C) que representam riscos para a saúde humana, saúde animal e para a ignição de incêndios florestais.

Conhecem-se como efeitos negativos para a saúde pública: descompensação de doentes crónicos (insuficiência cardíaca, insuficiência respiratória e doenças oncológicas) e aumento da mortalidade de idosos.

Sublinho que José Marinho Falcão foi o primeiro cientista a analisar os efeitos provocados por ondas de calor. Para tal, criou o sistema “Ícaro” para medir o risco de mortalidade provocado pelas ondas de calor.

Recordo que no Verão de 2003, ocorreram ondas de calor no Sul da Europa. Então, as temperaturas do ar durante os meses de Junho, Julho e Agosto desse ano, registaram valores anormalmente altos.

Um dia de Agosto, o meu homólogo francês telefonou-me a dizer que as agências funerárias não tinham capacidade instalada para resolverem o problema de tantos óbitos. Relatou-me que os corpos estavam nas câmaras frigoríficas do principal mercado de Paris, devido a essa falta de resposta. Respondi-lhe que a capacidade em Portugal era suficiente porque os serviços funerários estavam preparados para o Inverno, uma vez que a mortalidade é muito superior no tempo frio.

Recentemente, em Julho passado, ocorreu uma intensa onda de calor na região do Mediterrâneo (na Tunísia a temperatura atingiu 49°C). Porém, Portugal não foi afetado devido ao efeito protetor do anticiclone dos Açores (situação distinta da onda de calor verificada 20 anos antes).

O relatório Lancet Countdown, em 2023, apresentou estimativas para o ano de 2050, antecipando o aumentou das mortes provocadas por ondas de calor até quatro vezes mais, se não forem cumpridos os acordos de Paris e da COP28.

Isto é, a inação climática aumenta a mortalidade. 

(continua)

Francisco George
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