Opinião Pessoal (V)

Artigo de opinião publicado no “Diário de Notícias” 10 janeiro 2024

Para continuar a “série” da crise climática, dedico o espaço de hoje ao paludismo.  Irei clarificar a questão relacionada com o risco de o paludismo regressar a Portugal. Ora, esse risco é quase zero, apesar de ser verdade que o aquecimento global é gerador de condições ambientais favoráveis à multiplicação de diversas espécies de mosquitos vetores de doenças.

O paludismo é um caso especial.

Tentarei escrever por palavras simples, apesar da complexidade do assunto. Lembrar-me-ei da experiência que vivi em África e, sobretudo, dos ensinamentos de Francisco Cambournac.

Começo pelo princípio. O paludismo, também chamado malária, é uma doença que uma pessoa pode adquirir na sequência da picada de um mosquito-fêmea Anopheles, mas só quando esse mosquito transporta um parasita do género plasmódio.

Por agora, vamos esquecer a famosa advinha sobre “quem apareceu primeiro, o ovo ou a galinha?”

Voltando ao mosquito.

Note-se que só as fêmeas se alimentam de sangue, devido à necessidade das suas refeições terem de ser ricas em proteínas por razões associadas à postura de ovos (já os machos alimentam-se de sucos vegetais). A fêmea-mosquito, quando tem fome ou sede, pica uma pessoa para se alimentar. Se esta refeição sanguínea, obtida pela picada, sugar sangue humano que tenha parasitas do paludismo irá reter no seu estômago esses mesmos parasitas. Acontece que estas formas parasitárias reproduzir-se-ão no próprio estômago do mosquito. Sublinho que esta reprodução é sexuada. Isto é, as formas parasitárias femininas e masculinas do plasmódio, ambas aspiradas durante a picada, multiplicam-se no mosquito. Depois, as novas gerações do parasita, que resultaram desta reprodução, serão inoculadas quando o mosquito-fêmea se alimentar de novo pelo sangue de outra pessoa. É assim que esta pessoa, ao ser picada, adquire os parasitas que se encontram no mosquito que penetram nos glóbulos vermelhos do seu sangue, onde irão ter nova multiplicação, mas assexuada.

Em síntese, o ciclo dos parasitas tem duas multiplicações, sendo uma sexuada (no mosquito) e outra assexuada na pessoa que irá adoecer porque ficou com os parasitas no seu sangue. Se, por mero acaso, for picada por outro mosquito-fêmea, esses parasitas serão sugados juntamente com o sangue e haverá, de novo, reprodução sexuada e assim por diante…

(continua quarta-feira)

Francisco George
franciscogeorge@icloud.com