Opinião Pessoal (VI)

Artigo de opinião publicado no “Diário de Notícias” 17 janeiro 2024

Termino hoje as notas que escrevi sobre doenças transmitidas por mosquitos, incluindo o paludismo (conhecido, entre nós, por sezões).

Relembro o ciclo do agente do paludismo: no momento da picada o mosquito aspira sangue e o parasita (se estiver presente no sangue da pessoa que foi picada) que se multiplica no estômago do mosquito. Quando o mosquito voltar a picar outra pessoa, além de sugar o sangue para se alimentar, durante a picada, também injeta nessa pessoa o parasita que transporta.

Assim acontecem as doenças transmitidas por vetores.

No caso do paludismo, é preciso acentuar que há uma especificidade absoluta entre o parasita da doença e o mosquito que a transmite. Isto é, apenas os mosquitos do género Anopheles têm capacidade para transmitir o paludismo.

Eu sou daqueles que pensam que o paludismo não deverá regressar a Portugal porque a espécie do mosquito aqui existente, Anopheles artroparvus, não aceita o parasita africano do paludismo. Por outras palavras, os parasitas do paludismo não podem completar o respetivo ciclo de vida porque não se multiplicam no estômago dos mosquitos aqui existentes, mesmo que um doente com paludismo, proveniente de África, seja picado pelo Anopheles artroparvus. Isto é, em Portugal, o ciclo do parasita é interrompido.

Realço que a luta de erradicação do paludismo em Portugal (meados do século XX), conduzida por Francisco Cambournac, eliminou a estirpe do parasita Plasmódio, agente da doença, pelo tratamento com quinina de todos os doentes. Sublinho: já não há pessoas residentes em Portugal com o parasita no sangue capaz de se reproduzir no mosquito “português”.

Os mosquitos incomodam, sobretudo à noite, picam e provocam lesões cutâneas com prurido insistente, MAS NÃO TRANSMITEM PALUDISMO.

Bem diferente, é o risco que existe de surgir uma epidemia de dengue, chikungunya ou de zika. São infeções virais, todas transmitidas por mosquitos do género Aedes. No Continente, estes mosquitos já foram identificados, mas não infetados. 

Para além das consequências em Saúde Pública, especialmente o risco de alterações fetais originadas pela infeção do vírus zika em mulheres grávidas, o turismo seria atingido com gravidade. Como é natural, os turistas não passam férias em zonas de risco…

Conclusão: é urgente que o Estado invista mais em prevenção. Sem demoras.

Francisco George
franciscogeorge@icloud.pt