Opinião Pessoal (XXIII)

Artigo de opinião publicado no “Diário de Notícias” 15 maio 2024

A crónica de hoje tem como tema a vida e o modo de viver da população mais idosa no nosso país. Para tal, proponho, primeiramente, que olhemos para a atual dimensão do envelhecimento dos residentes em Portugal.

Segundo dados do Instituto Nacional de Estatística há dois milhões e meio de habitantes (incluindo imigrantes) com 65 ou mais anos de idade.

Ora, concentremos a nossa atenção apenas nestes 2,5 milhões de pessoas e façamos as questões seguintes:

1) Em Portugal, uma pessoa com 65 anos de idade quantos anos tem de esperança de viver?

2) Dentro desse grupo com 65 e mais anos, quantas pessoas têm mais de 80 anos e mais de 100 anos?

3) Quais as principais doenças que afetam estas pessoas?

4) Há doenças evitáveis, mesmo neste grupo etário?

5) É possível prolongar ainda mais a longevidade e assegurar, simultaneamente, mais qualidade à vida?

Eis as respostas às cinco questões acima formuladas:

1) Em média, em termos de probabilidade, quem tem 65 anos de idade tem a esperança de viver mais 20 anos. Esta estimativa traduz o desenvolvimento da Saúde Publica, desde 1974. Foi resultado do progresso socioeconómico, do Serviço Nacional de Saúde, das prestações sociais e das novas infraestruturas de saneamento básico. O país foi ficando diferente e melhor e as pessoas passaram a viver mais tempo (a morrer mais tarde).

2) Os mais idosos com 80 anos ou mais anos de idade são 750 mil pessoas, das quais três mil têm 100 ou mais anos. Estes dados refletem o conceito de longevidade (30 % dos 2,5 milhões de habitantes têm 80 ou mais anos) e o processo imparável de envelhecimento demográfico. É uma questão que não deverá ser dramatizada, mas que exige preparação, adaptação e planeamento.

3) As doenças cérebro-cardiovasculares, oncológicas e as doenças respiratórias de evolução crónica representam a maior carga de doença, uma vez que provocam morte e incapacidade. Porém, as doenças agudas, nomeadamente de natureza infeciosa têm expressão significativa, mesmo no período pós-pandémico.

4) Sim. É possível evitar determinadas doenças transmissíveis, quer de origem viral quer bacteriana, uma vez que há vacinas seguras. Assumem indiscutível oportunidade, visto que evitam os casos mais graves de doença e, portanto, reduzem a necessidade de hospitalização e a admissão em unidades de cuidados intensivos. É o caso das novas vacinas para a gripe (alta dose), para as pneumonias e outras infeções respiratórias.

5) É verdade. É possível diferir o final da vida. Isto é, prolongar a longevidade e com mais qualidade de vida no âmbito da implementação de políticas públicas para o envelhecimento ativo em que a idade biológica deixa de ser o fator principal para decidir se cada pessoa pode ou não continuar a produzir.   Tão importante como saber prevenir e tratar a diabetes ou a hipertensão arterial, ou qualquer outra doença, é garantir o acesso a novas vacinas que adicionam mais tempo de vida à própria vida. Além disso, os investimentos necessários para a aquisição de vacinas são compensados com os benefícios a que dão origem. Isto é, têm um custo-benefício compensador, já cientificamente demonstrado.

(continua)

Francisco George
franciscogeorge@icloud.com