Opinião Pessoal (XXIV)

Artigo de opinião publicado no “Diário de Notícias” 22 maio 2024

Já aqui escrevi sobre o panorama do envelhecimento da população residente em Portugal. O fenómeno da atual transição demográfica era esperado, desde há muito. Todos sabiam que iria acontecer. Por outras palavras, a população portuguesa não envelheceu de forma súbita. Ano após ano a proporção de pessoas idosas aumentou de forma imparável, em comparação com o ano anterior. Assim, em termos percentuais, o país passou a ser habitado por mais idosos. Situação com tendência para se acentuar no final da década.

O aumento da esperança de vida verificado em Portugal traduz, naturalmente, os imensos avanços socioeconómicos e de saúde pública que foram alcançados desde 1974.

Já manifestei a minha convicção de ser possível prolongar, ainda mais, a esperança de vivermos, apesar do notável aumento da longevidade que foi conseguido, até agora: entre a população com 65 ou mais anos de idade, 30% são pessoas com idade superior a 80 anos.

Para ser possível prolongar o tempo de viver, há que implementar medidas que visam, também, elevar a qualidade de vida das pessoas. Isto é, com mais autonomia. Com mais atividade produtiva. Com mais energia. Com mais saúde. Com mais prosperidade.

Para tal, é preciso desenhar e implementar políticas setoriais, concretas, destinadas a incentivar a promoção da saúde e a prevenção das doenças. Essas ações, desde que cientificamente fundamentadas, serão contempladas em políticas públicas conduzidas pelos diferentes departamentos do Estado e, em particular, pelo Ministério da Saúde. O sucesso dessas políticas preventivas depende, antes de tudo, da respetiva aceitação social e do grau de participação da população.

Em resumo, sou da opinião que é oportuno impulsionar a componente de prevenção no Sistema de Saúde, na perspetiva do envelhecimento saudável.

É preciso tudo fazer nesse sentido. Não adiar.

É o caso da introdução de novas vacinas para adultos que são eficazes para evitar complicações de certas infeções respiratórias, tanto de natureza viral como bacteriana. Pesquisas científicas recentes comprovam os seus efeitos positivos que não podem ser ignorados. Refiro-me à vacina contra a gripe de “alta dose” que tem uma carga antigénica quatro vezes maior do que a vacina sazonal standard e que é especialmente indicada para prevenir as complicações respiratórias em idosos (por exemplo, a partir dos 80 anos) durantes as semanas frias.

Com o mesmo propósito, estão, igualmente, aconselhadas, a partir dos 65 anos de idade, as vacinas inovadoras contra as doenças provocadas pelo pneumococo que visam evitar os efeitos associados à pneumonia, meningite e otites.

No mesmo sentido, as vacinas contra as infeções originadas pelo vírus sincicial respiratório (VSR) estão indicadas para adultos com idade igual ou superior a 60 anos, mas, igualmente, para serem administradas, em dose única, a mulheres grávidas entre as 24 e 36 semanas de gravidez, a fim de prevenir infeções do recém-nascido.

Conclusão: Estudos de custo-benefício demonstram que os investimentos necessários para aquisição e administração das vacinas são compensados pelas poupanças decorrentes da redução das despesas que estariam relacionadas com a hospitalização de doentes, incluindo os tratamentos em unidades de cuidados intensivos (em doentes sem vacinação contra estas doenças).

Francisco George
franciscogeorge@icloud.com