Bactérias & Vírus, Elefantes & Formigas

Artigo de opinião publicado no “Diário de Notícias” de 9 fevereiro 2022

Para descrever agentes infeciosos tão diferentes como bactérias e vírus, a título meramente pedagógico, começa-se por resumir a célebre fábula do elefante e da formiga que, apressadamente, caminhavam, lado a lado, em plena savana africana: Eis senão quando, já no fim da estrada de terra batida, antes de chegarem ao lago para onde se dirigiam, a formiga olha para trás e diz para o elefante:
– Oh Elefante, repara na poeira que nós os dois levantámos!

Serve a historieta para retirar como lição moral que a estranha exclamação da formiga, se bem que hilariante, era verdadeira. Tinha toda a razão, visto que eram os dois que estavam implicados na formação da imensa poeirada. Os dois, sublinha-se, apesar das proporções causais serem muito distintas!

Ora, as bactérias e os vírus são, ambos, agentes patogénicos capazes de provocarem infeções e doenças. Salvo os exageros da comparação com a narrativa acima contada, a bactéria seria comparável ao elefante e o vírus à formiga, atendendo às respetivas dimensões, tão acentuadamente diferentes.
Precise-se a distinção.

– Uma bactéria é um ser vivo, pertencente ao Reino Vegetal, que tem parede celular, núcleo e uma multiplicidade de minúsculos órgãos que asseguram a sua vitalidade, desenvolvimento e multiplicação (a bactéria divide-se por 2, 4, 8, 16, 32, 64 …).

A natureza patogénica das bactérias, isto é, a capacidade de poderem provocar doenças, foi descoberta pelo cientista alemão Robert Koch ao demonstrar, em 1877, que o carbúnculo era originado pelo Bacillus anthracis (o célebre anthrax amplamente mediatizado depois do 11 Setembro). Foi, assim, a primeira bactéria associada diretamente a uma determinada doença. Marcou o começo da Microbiologia. Desde então, sucederam-se investigações que viriam a comprovar a causa bacteriana de muitas outras doenças: tuberculose, abcessos, pneumonia, difteria, tétano, tosse convulsa, brucelose, cólera, peste, febre tifoide, certas intoxicações alimentares, meningite meningocócica ou pneumocócica, etc.
As bactérias são visíveis pela microscopia ótica e têm a característica comum de poderem ser tratadas ou curadas com antibióticos.

– Os vírus não têm vida própria. Ao contrário das bactérias, não consomem energia, não têm metabolismo, não se multiplicam. A replicação, causadora de infeção, ocorre depois de penetrarem nas células do hospedeiro.
São partículas, praticamente inertes, que devido às dimensões tão acentuadamente diminutas atravessam os poros de filtros de porcelana (enquanto as bactérias são retidas). Curiosamente, este atributo foi demonstrado pela primeira vez com o vírus da gripe, em Londres, durante uma epidemia do Inverno de 1933. As pesquisas com furões conduzidas pelo médico inglês Wilson Smith ficaram célebres porque evidenciaram, não só a origem viral da gripe e o reduzido diâmetro do vírus, como também a capacidade de originar doença em seres humanos e, também, em animais. Em média, estes vírus medem 100 nanómetros (equivalente a 10 mil vezes mais pequeno do que 1 milímetro). Por isso, apenas a microscopia eletrónica e os novos métodos de biologia molecular podem evidenciar e classificar os vírus.

As infeções e doenças virais são, tal como as bacterianas, igualmente, muito frequentes na comunidade. Como regra, provocam situações agudas, mas, em determinas situações, podem evoluir para a cronicidade.

Para além da gripe, todos os portugueses conhecem numerosas doenças causadas por vírus: infeções respiratórias agudas, poliomielite aguda (também designada por paralisia infantil), sarampo, papeira, rubéola, varicela, herpes, papiloma, SIDA, doença do ébola, dengue, doença do vírus Zika, febre amarela e, agora, Covid-19, entre muitas outras infeções.

Apesar dos antibióticos não terem qualquer efeito terapêutico nas doenças provocadas por vírus, nos últimos 40 anos foram introduzidas novas moléculas antivirais com atividade comprovadamente eficaz, primeiro, no tratamento da SIDA e muito recentemente, já em 2022, para a Covid-19 (Paxlovid, por exemplo, entre outros medicamentos).

Francisco George