Diabetes (capítulo I)

Artigo de opinião publicado no “Diário de Notícias” 25 outubro 2023

É preciso falar sobre a diabetes. Falar mais sobre a sua génese e prevenção.

A diabetes mellitus, assim designada corretamente em Medicina (como substantivo feminino e singular) é, habitualmente, mencionada na linguagem comum como os diabetes. Mas, muito para além da nuance ortográfica, o conhecimento sobre a diabetes constitui, desde a Antiguidade, um imenso fascínio para médicos e para a generalidade das pessoas.

No plano etimológico diabetes mellitus tem origem no grego e no latim: diabetes=sifão, referente à frequência em urinar (do greco) e mellitus assinala que a urina é açucarada como o mel (do latim).

Apenas no século XIX, teve início a compreensão fundamentada da doença no seguimento dos trabalhos científicos realizados pelo médico alemão Paul Langerhans que nasceu em Berlim, em 1847 e que viria a morrer no Funchal em 1888. Viveu na Madeira desde 1875 à procura do clima ameno de “primavera eterna” adequado para tratar a tuberculose pulmonar que o apoquentava. Exerceu clínica assistencial no seu consultório da casa onde residia à Rua da Conceição, primeiro e a seguir na Rua dos Netos, também no Funchal. Ao mesmo tempo continuava os estudos científicos, incluindo em zoologia. Trabalhou até ao fim da sua vida. Morreu no Funchal aos 41 anos de idade, onde está sepultado.

Em 1869, as pesquisas conduzidas por Paul Langerhans, ainda muito jovem, marcaram a história da diabetes. Ao observar ao microscópio as lâminas com preparações de pâncreas foi ele que descobriu a existência de pequenas ilhas (ilhéus) que se distinguiam do restante tecido envolvente. Descreveu as células dos ilhéus com grande minúcia: “… o seu diâmetro é de 0,0096 a 0,012 milímetros e o diâmetro do núcleo é de 0,0075 a 0,008 milímetros…”.

Porém, na altura ainda não se sabia que os ilhéus descritos por Langerhans continham células produtoras de uma substância que intervinha na regulação do teor de açúcar do sangue (metabolismo dos açúcares).

Foi só muito mais tarde, em 1921, que Frederick Banting e Charles Best, médicos da Universidade de Toronto (Canadá), descobriram a hormona produzida nos Ilhéus de Langerhans do pâncreas que, por isso mesmo, foi designada de INSULINA (do latim insularis=relativo a ilha).  Comprovaram que a ausência de insulina ou a sua insuficiência explicava o aparecimento da diabetes.

Dois anos depois Frederick Banting receberia o Prémio Nobel da Medicina pela descoberta da insulina, tendo o seu aluno Charles Best sido, injustamente, ignorado pelo Comité Nobel porque era um estudante de 21 anos de idade…

Precise-se.

Qual a ação da insulina?

A insulina, segregada pelas células dos ilhéus pancreáticos diretamente para o sangue, é a hormona que promove a entrada do açúcar presente no sangue (proveniente dos alimentos) nas células do organismo.

Realce-se que o açúcar é a principal fonte de energia que possibilita a atividade celular. Mas, sublinhe-se, a penetração do açúcar nas células é apenas possível na presença de insulina produzida pelas células dos ilhéus de Langerhans segundo as necessidades de cada momento, tanto durante o dia como da noite. Essa regulação é automática através do conhecido mecanismo de feedback: quanto mais açúcar há no sangue, maior é produção de insulina e inversamente: quando baixa o açúcar do sangue, menor é a insulina produzida.

(continua na quarta-feira próxima)

Francisco George
franciscogeorge@icloud.com