Diabetes (capítulo II)

Artigo de opinião publicado no “Diário de Notícias” 1 novembro 2023

Retoma-se, hoje, a exposição sobre a diabetes. Na semana anterior descreveu-se o mecanismo de feedback entre o teor do açúcar do sangue (glicémia) que, inevitavelmente, está sempre a variar ao longo das 24 horas do dia, sobretudo em função da alimentação e do exercício físico. Aliás, compreende-se facilmente que a fome faça baixar a glicémia, tal como, no mesmo sentido, a atividade física (pelo natural consumo de energia que provoca). Inversamente, a alimentação e o sedentarismo aumentam a glicémia, logo seguida, como resposta, pela produção de mais insulina que entra na corrente sanguínea.

Então, essa insulina, que foi segregada pelas células dos ilhéus de Langerhans do pâncreas, irá permitir a penetração do açúcar do sangue para o interior das células do organismo. A insulina funciona, nestes termos, como se fosse uma chave que abre a porta das células para o açúcar poder entrar. Como efeito imediato, à medida que o açúcar entra nas células, verifica-se a sua descida no sangue circulante, no contexto de um processo ininterrupto ao longo das 24 horas de cada dia.

Sublinhe-se que o açúcar é a principal fonte de energia celular.

Ora, a diabetes aparece precisamente quando falha a ação da insulina. Falha esta que pode ter causas distintas que irão caracterizar os dois principais tipos de diabetes, nomeadamente: a DIABETES TIPO 1 devida a um processo de autoimunidade que destrói as células produtoras de insulina e a DIABETES TIPO 2 originada pela resistência à insulina. Isto é, quando o organismo deixa de ser sensível à insulina.

Detalham-se, a seguir, algumas das características próprias da diabetes tipo 2, uma vez que é a mais frequente e que mais medidas de prevenção impõe, tendo em atenção tanto o seu aparecimento como a prevenção dos efeitos que provoca.

Antes de tudo, insista-se que a diabetes tipo 2 é eminentemente hereditária, condição que, em parte, explica a sua frequência na população. Em Portugal, estima-se a existência aproximada de 1,1 milhão de pessoas com diabetes entre os 20 e os 79 anos de idade. Por outras palavras, cerca de 14% da população neste grupo etário é diabética, mas, estranhamente, apenas 8% tem diabetes clinicamente diagnosticada.

Como acima mencionado, a génese da diabetes tipo 2 está relacionada com o advento de resistência à ação da insulina. Por outras palavras, a insulina presente no sangue que foi segregada nas células dos ilhéus pancreáticos começa a perder progressivamente a capacidade de fazer entrar o açúcar do sangue para dentro das células, originando hiperglicemia. No fundo, é este fenómeno (insulinorresistência) que se transmite de forma familiar (hereditária).

Por essa razão, netos, filhos, sobrinhos de pessoas com diabetes mellitus de tipo 2 têm que saber que o risco de a adquirirem é mais elevado. É por isso, que nestas situações é preciso que esses familiares promovam, desde cedo, comportamentos e estilos de vida preventivos, designadamente alimentação equilibrada com menos açucares e mais exercício físico. É absolutamente aconselhável evitar o hábito das crianças consumirem rebuçados, caramelos, bolachas, refrigerantes, gelados, sobremesas doces.

As famosas “Bolas de Berlim”, recheadas com creme (lamentavelmente, bem à moda portuguesa), poderão ser quase equiparadas a verdeiros venenos…

(continua na próxima quarta-feira)

Francisco George
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