Opinião Pessoal (XVII)

Artigo de opinião publicado no “Diário de Notícias” 3 abril 2024

No âmbito das infeções bacterianas transmitidas por via sexual já aqui esclareci que a sífilis é a mais grave e, ao mesmo tempo, a mais fácil de curar (com a penicilina prescrita pelo médico).

Confirmo que, em Portugal, há uma tendência de aumento de casos novos dessas infeções que constitui justificada preocupação em Saúde Pública.

Os dados publicados, referentes ao ano de 2022, indicam 2200 infeções gonocócicas; 1500 por Clamídia e 1500 novas infeções de sífilis (números redondos) que traduzem uma elevação expressiva das respetivas incidências em relação a anos anteriores.

São retrocessos que não podem ser ignorados. Antes de tudo têm que ser compreendidos. É preciso perceber as razões que explicam esses aumentos para serem aplicadas medidas de controlo, necessariamente baseadas em comprovação científica.

Será que os preservativos são menos utilizados em comparação com anos anteriores?

Para responder à questão formulada terão que ser convocados os especialistas em psicologia e ciências sociais para analisarem as causas da aparente menor adesão ao uso de preservativos. Será devido ao excesso de confiança porque a SIDA já não é uma doença fatal? Ou serão dificuldades de acesso a preservativos nos locais e nos momentos que antecedem as relações sexuais? Ou serão outras as explicações?

Só depois de respostas, devidamente fundamentadas, será possível desenhar um plano de prevenção, especialmente dirigido aos motivos das falhas identificadas pelas investigações sociológicas.

Na minha opinião, o aumento de casos novos de infeções transmitidas por via sexual não está relacionado com o anonimato da pessoa infetada. Reparemos que a confirmação da doença é sempre competência do médico que diagnostica e trata a pessoa infetada. Ora, é esse mesmo médico que terá que aconselhar e prescrever a terapêutica a todos os contatos do seu doente que fica, ele mesmo, desde logo, incumbido de colaborar nesse sentido. Na dimensão ética não seria aceitável que o médico que declara o caso transmitisse a outras equipas o nome, a morada e a natureza da doença diagnosticada. Aliás, é fundamental que os doentes portadores destas infeções tenham confiança no “seu” médico, sabendo que o assunto é segredo profissional.

Para reduzir o problema, proponho as seguintes seis medidas: 1 Solicitar às faculdades de sociologia e de psicologia a análise dos comportamentos de risco de jovens e adultos; 2 Melhorar o desempenho da Educação Sexual nas escolas como parte da estratégia de educação para a saúde e para a cidadania; 3 Introduzir a distribuição gratuita de preservativos em todas as farmácias do país; 4 Alargar a rede de máquinas de venda de preservativos, a baixo custo, em todos os locais de diversão noturna; 5 Organizar centros de testagem com marcação online;  6 Garantir o acesso às pessoas que o solicitem de consulta médica em regime “via verde”, assegurando o atendimento no mesmo dia, em todas as unidades de ambulatório (setores público, privado ou social).

Francisco George
franciscogeorge@icloud.com