Arnaldo Sampaio. Meu Professor (1)

Costumo dizer que os meus professores, Avelino Cunhal, no ensino secundário, e Arnaldo Sampaio na especialização em Saúde Pública, constituíram as minhas principais referências.

Arnaldo Sampaio (1908-1984) foi uma grande figura da Moderna Medicina Portuguesa. Seguramente, foi um dos mais notáveis fundadores da Nova Escola. Participou na formação da maioria dos médicos de saúde pública em Portugal. Ensinou todos. Transmitiu aos seus discípulos a noção da vastidão das áreas de interesse em Saúde Pública.

Foi um dos primeiros a considerar natural a intervenção de médicos no processo de desenvolvimento das comunidades, indissociável do desenvolvimento sócio-económico. Para ele, a Saúde Pública resulta do conhecimento de múltiplas disciplinas e atravessa todos os sectores. Insistia que os interesses da saúde dos cidadãos tinham que ser observados nos programas e iniciativas de outros departamentos do Estado, a fim de garantir a promoção da saúde e a prevenção das doenças através da adopção de medidas concretas capazes de poderem reduzir factores de risco reconhecidos como tal. Atribuía particular destaque à Educação, à Agricultura, Indústria e Ambiente.

Em 1977, Sampaio que integrava o principal órgão dirigente da Organização Mundial da Saúde, participou nos trabalhos preparatórios da Conferência que, no ano seguinte, definiu, na cidade de Alma-Ata, da então URSS, um novo conceito filosófico de Saúde. A participação dos cidadãos e a conjugação de meios mobilizados, dentro e fora do sector da saúde, são as duas componentes essenciais que passaram a ser consideradas na nova abordagem. O antigo Posto Médico dava luga ao Centro de Saúde onde médicos, enfermeiros e técnicos de higiene e saúde ambiental, apoiados por elementos administrativos, estabelecem uma relação de colaboração activa com indivíduos e famílias dando relevo à participação da Câmara Municipal e dos sectores da educação e segurança social na área da saúde.

O antigo Presidente da República, Jorge Sampaio, o mais velho dos dois filhos de Arnaldo Sampaio, ao visitar o Centro de Saúde de Mértola, em Abril de 1996, lembrou que seu Pai costumava dizer-lhe quando era por ele acompanhado na visita a unidades de saúde: “Não te preocupes em demasiado com os edifícios, se são novos ou velhos. Preocupa-te, sim, com quem lá trabalha, se estão lá, se trabalham, se têm ligações às pessoas, se as pessoas os reconhecem como seus médicos ou seus enfermeiros, se têm carinho com eles, se a unidade funciona lá por dentro. Porque por fora têm pouca importância”.

Sem dúvida que Jorge Sampaio, em visita oficial como Presidente, ao citar seu Pai pretendia realçar a importância em se imprimir elevados padrões de qualidade (centrados na humanização dos serviços) decorrentes do empenho de cada membro que integra a equipa de saúde.

Arnaldo Sampaio foi investigador, professor e director-geral da Saúde entre 1972 e 1978. O seu nome ficará para sempre ligado ao Instituto Nacional de Saúde Ricardo Jorge, à Escola Nacional de Saúde Pública e à Direcção-Geral da Saúde.

Ainda hoje o seu mandato como Director-Geral é recordado e citado como exemplo. É esse exemplo que constitui um permanente desafio para quem lá exerce funções e especialmente para aqueles que cumprem posições dirigentes.

Conheci pessoalmente Arnaldo Sampaio, foi meu mestre. Amigo também. Trabalhei sob a sua direcção quando fui nomeado Delegado de Saúde no concelho de Cuba, em 1976. Posso, por isso, testemunhar a sua dedicação ao desenvolvimento da Saúde Pública em Portugal. Foi ele que geriu o primeiro Programa de Vacinação administrado gratuitamente a todas as crianças. Um sucesso inquestionável.

Francisco George

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(1) Baseado num artigo escrito pelo Autor para o “Diário do Alentejo”  e publicado em 6 de Fevereiro de 1998.

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