Reviver o passado é bom.
As fotografias da época ajudam a revisitar tempos, locais e cenários vividos nas antigas férias grandes de julho a outubro. Férias prolongadas que marcam a memória. No meu caso, durante a transição da adolescência para a juventude, os anos do rock and roll dos discos de 45 rotações estão sempre presentes.
Na Praia das Maçãs era assim: pela manhã, eu e o meu irmão gémeo frequentávamos as areias à beira mar protegidos pelas abas dos toldos. Ao lado, lá estava o escritor Ferreira de Castro sentado num banco de madeira, também à sombra, mas completamente vestido “à cidade” e que, por isso, marcava a diferença. Todos nós sabíamos que era o autor d’ A Selva. A sua filha Elsa alinhava, igualmente, no nosso grupo.
À tarde, na piscina de água salgada, as lições com o nadador olímpico João Franco do Vale a ensinar bruços, mariposa, crawl e costas preparavam-nos para as competições do final de agosto.
À noite, os bailes de garagem nas casas dos pais de uns e outros eram animados pelo gira-discos que não parava. Invariavelmente, as músicas eram sempre as mesmas e o ambiente “romântico” via nascer os primeiros amores de Verão. Outras vezes, frequentávamos o cinema em dias de filmes imperdíveis, assinalados ou por Brigite Bardot e Elizabeth Taylor ou, mais raramente, por filmes de referência como “O Leopardo” ou “Bruscamente no Verão Passado” ou ainda “O grito” de Michelangelo Antonioni.
As energias eram gastas pelos pedais das bicicletas e, infelizmente, repostas pelas bolas de Berlim do “Lá vou eu”.
Geraram-se amizades e cumplicidades para sempre. De entre as famílias da nossa Linha Azenhas do Mar, Praia das Maçãs e Praia Grande algumas passaram, muito mais tarde, para as primeiras páginas dos jornais. Foi o caso de Palma Carlos, o primeiro Primeiro-Ministro do Governo Provisório, Jorge Sampaio, Presidente de Regime Constitucional, e, mais tarde, o atual Presidente da Assembleia, Eduardo Ferro Rodrigues, ou o ex-ministro Jorge Braga de Macedo.
Em distinta dimensão de projeção pública, na altura, também, todas as manhãs caminhavam para a Praia das Maçãs os irmãos Lobo Antunes.
Inesquecível foi a decisão do nosso Pai ter premiado o meu irmão João devido ao salvamento, por ele protagonizado, de uma amiga que estava na iminência de se afogar nas retorcidas águas da pequena praia das Azenhas do Mar. Ao ver Teresa a imergir, destemidamente atirou-se para a ir buscar. Por alguma razão era ele que recebia mais medalhas das provas de natação…
Memoráveis são também os mexilhões apanhados nas rochas e os polvos agarrados com longos ganchos que os pescadores levavam aos ombros.
O regresso a Campo de Ourique era, à chegada, sinalizado pela presença dos vendedores de castanhas assadas que, à partida para férias, não estavam presentes.
Tudo são memórias inesquecíveis das nossas idades inocentes.
Olhar para trás é bom.
Francisco George
Julho de 2017